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20/06/2025

Mortes perto de centro de ajuda de Israel em Gaza agravam desespero, diz Unicef

Por Manuela Rached Pereira/ Folha Press em 20/06/2025 às 16:14

Reprodução/Instagram.
Reprodução/Instagram.

Diante do aumento diário de mortos e feridos no entorno de pontos de distribuição de alimentos na Faixa de Gaza, a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) avalia que a GHF (Fundação Humanitária de Gaza), operada por Israel com apoio dos Estados Unidos, tem agravado uma situação já “desesperadora” no território palestino.

Dezenas de pessoas foram mortas por ataques israelenses próximos a locais de distribuição de alimentos nos últimos dias, segundo autoridades palestinas. Ao menos 46 pessoas que aguardavam por caminhões de ajuda morreram só entre esta quinta e esta sexta-feira (20), vítimas de disparos israelenses no entorno de um ponto de distribuição da GHF em Netzarim, no centro da Faixa de Gaza, de acordo com autoridades locais de saúde e Defesa Civil. Nas últimas semanas, outras dezenas de civis morreram da mesma forma em outras regiões do enclave, segundo organizações internacionais como a Cruz Vermelha.

GHF “está fazendo uma situação desesperadora ficar pior”, diz comunicado da Unicef. Em declaração à imprensa nesta sexta-feira sobre o assunto, o porta-voz da organização, James Elder, afirmou que esteve recentemente em Gaza e recebeu muitos relatos de mulheres e crianças feridas ao tentar receber alimentos, incluindo um menino atingido por um projétil de tanque, que morreu em decorrência dos ferimentos.

O que diz Israel. Sobre os disparos em Netzarim no último dia, o Exército israelense disse à agência de notícias AFP que seus soldados efetuaram “disparos de advertência” contra “suspeitos” que se aproximaram deles, mas que não havia “nenhum registro de feridos”. Ao longo do último mês, também Israel negou os ataques contra civis, enquanto anunciava a morte de líderes e aliados do Hamas.

Recém-criada GHF, que há menos de um mês passou a distribuir alimentos no enclave, é operada por grupo privado israelense apoiado pelos EUA. A fundação começou a operar em 26 de maio com apenas quatro pontos de distribuição e quantidades de mantimentos consideradas insuficientes para suprir a escassez de água e comida no território, após um bloqueio de quase três meses imposto por Israel.

Sob o sistema de distribuição anterior, coordenado pela ONU, havia cerca de 400 pontos de distribuição de mantimentos. No último dia 13, as Nações Unidas divulgou que considera o trabalho da GHF “um fracasso” do ponto de vista humanitário.

“Acho justo dizer que é um fracasso do ponto de vista dos princípios humanitários. Eles não estão fazendo o que uma operação humanitária deveria fazer, que é levar ajuda às pessoas onde elas estão”, disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).

GHF divulgou em comunicado no último dia 18 que distribuiu três milhões de refeições em três de seus locais de ajuda. Segundo a Fundação, as distribuições ocorreram “sem qualquer incidente”.

Gaza também ameaça pela ‘seca’

“Seca provocada pelo homem” aflige população de Gaza, divulgou ainda a Unicef. Segundo informado nesta sexta pela organização, os sistemas de água no território estão entrando em colapso, com apenas 40% das instalações de produção de água potável funcionando em toda a região.

“Estamos muito abaixo dos padrões de emergência em termos de água potável para as pessoas em Gaza (…) As crianças começarão a morrer de sede”, disse James Elder, porta-voz da Unicef.

Unicef também divulgou aumento de 50% no número de crianças de seis meses a cinco anos de idade internadas para tratamento de desnutrição de abril a maio em Gaza. Informou ainda que, no período, cerca de meio milhão de pessoas passavam fome no enclave.

ONU denunciou violência inédita contra crianças em Gaza e outros países. O relatório anual do secretário-geral da ONU, António Guterres, divulgado nesta quinta-feira (18), diz que, em 2024, “a violência contra crianças em conflitos armados alcançou níveis sem precedentes”, com um aumento global de 25% no número de violações graves em comparação com 2023, em regiões como Gaza, Haiti, República Democrática do Congo e Colômbia.

Relatório registrou 41.370 violações graves contra crianças em 2024. Entre elas, 36.221 foram cometidas no mesmo ano, e 5.149 ocorreram anteriormente, mas só foram confirmadas em 2024.

Número é o mais alto registrado desde que mecanismo de monitoramento da ONU foi criado, há quase 30 anos. Com mais de 4.500 crianças assassinadas e mais de 7 mil feridas, os menores “suportaram o peso maior das hostilidades implacáveis e dos ataques indiscriminados”, divulgou a ONU.

“Os gritos dessas 22.495 crianças inocentes que, em vez de aprenderem a ler ou jogar bola, foram obrigadas a aprender a sobreviver a tiros e bombardeios, deveriam tirar nosso sono. (…) Isso deve servir como um alerta. Estamos em um ponto sem retorno”, disse Virginia Gamba, representante especial da ONU após divulgação de relatório anual.

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