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Santos discute identificação para idosos com Parkinson

Por Beatriz Pires em 21/06/2025 às 12:00

Reprodução/Câmara Municipal de Santos
Reprodução/Câmara Municipal de Santos

Aprovado em primeira instância, o Projeto de Lei 83/2025 propõe instituir o uso do cordão tulipa e a emissão de um cartão especial para identificar idosos com síndrome de Parkinson em Santos. De autoria do vereador Cacá Teixeira (PSDB), a proposta tem como objetivo garantir os direitos dessas pessoas, facilitando seu acesso a serviços públicos e evitando constrangimentos.

O projeto se baseia em relatos do Grupo Lótus (Associação Parkinson da Baixada Santista), que apontam que pacientes com Parkinson são frequentemente confundidos com pessoas alcoolizadas ao buscarem atendimento em unidades básicas de saúde.

A médica neurologista Andrea Anacleto defende a iniciativa e afirma que ela será essencial para garantir acessibilidade e qualidade de vida às pessoas diagnosticadas, especialmente em ambientes públicos. Segundo ela, os cartões e o cordão são ferramentas fundamentais para identificar uma condição neurológica invisível, como o Parkinson, evitando situações de constrangimento e fortalecendo políticas públicas de inclusão, como prioridade em filas e acesso ao transporte público.

“O Parkinson é uma doença neurodegenerativa que afeta uma área do cérebro chamada substância negra, responsável pela produção de dopamina, neurotransmissor essencial para o controle dos movimentos. Com a morte das células dopaminérgicas, o cérebro perde a capacidade de coordenar os comandos motores com precisão”, explica Andrea.

Idosos a partir dos 60 anos são os mais afetados pela doença. No entanto, cerca de 10% dos casos ocorrem em pessoas com menos de 50 anos. Há também registros raros de diagnóstico precoce em jovens com cerca de 20 anos.

Além dos tremores, sintoma mais conhecido da doença, outros sinais incluem lentidão nos movimentos, rigidez muscular, alterações no equilíbrio, endurecimento das expressões faciais, escrita miúda e dificuldade para engolir. Em estágios mais avançados, podem surgir sintomas como depressão, ansiedade e distúrbios do sono.

“O Cordão Tulipa Vermelha, assim como o cartão de identificação, funciona como uma forma silenciosa de dizer: ‘Eu tenho uma condição neurológica. Preciso de compreensão e, às vezes, de apoio’. Isso humaniza o olhar da sociedade e promove a inclusão”, pontua a neurologista.

Andrea ressalta que a doença pode ser confundida com outras, como o tremor essencial benigno, Alzheimer ou parkinsonismos atípicos, como a atrofia de múltiplos sistemas. O diagnóstico deve ser feito por avaliação neurológica, com base nos sintomas, e exames como ressonância magnética. Em alguns casos, pode ser necessário o exame DaTSCAN, ainda indisponível no Brasil.

“Atendo muitos pacientes que relatam um sofrimento que vai além dos sintomas físicos — é o medo constante do constrangimento social. Muitos preferem sentar-se em locais mais isolados para evitar olhares e julgamentos”, compartilha Andrea.

Fatores como predisposição genética, idade avançada, traumas cranianos repetitivos e histórico familiar podem contribuir para o surgimento da doença. O tratamento inclui medicamentos, muitos disponíveis gratuitamente pela Farmácia Popular e, em alguns casos, procedimentos como a Estimulação Cerebral Profunda (DBS), cirurgia que implanta um dispositivo no tórax capaz de emitir estímulos elétricos que regulam áreas afetadas do cérebro.

Segundo a médica, iniciativas semelhantes já existem em outros países. “No Reino Unido, o ‘Sunflower Lanyard’ é amplamente aceito em aeroportos, supermercados e órgãos públicos. Em países como Espanha, Portugal e Estados Unidos, há projetos semelhantes voltados a distúrbios neurológicos e demências.”

O texto do projeto prevê que o Poder Executivo Municipal possa delegar a implantação à Secretaria da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, ou a outra pasta que venha a substituí-la. A proposta foi discutida na 36ª sessão ordinária da Câmara, realizada na última terça-feira (17), e segue em tramitação.

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