Fim da fusão entre Gol e Azul foi acertada, diz diretor de associação do setor aéreo
Por Diego Feliz/Folhapress em 10/12/2025 às 10:00
Cancelada por falta de acordo entre as companhias, a decisão de encerrar um possível processo de fusão entre Gol e Azul foi acertada, disse nesta quarta-feira (10) o diretor geral-da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), Willie Walsh.
Favorável a operações de consolidação dos negócios como a que estava em discussão entre as aéreas brasileiras, Walsh avalia que incertezas econômicas, principalmente cambiais, tornam-se um entrave para fusões.
“Algumas decisões tomadas foram acertadas, pois não se pode consolidar negócios quando uma das partes envolvidas enfrenta um grande desafio de reestruturação. Mas acho que já vimos exemplos de consolidação positiva para o mercado e acredito que veremos isso novamente no futuro”, disse Walsh em conversa com jornalistas na sede da Iata, em Genebra (Suíça).
Para o executivo, a consolidação de negócios é benéfica para o setor aéreo e positiva para consumidores, mesmo em casos como o brasileiro, em que o mercado é controlado por poucas empresas e a competitividade é baixa.
“O desafio para o mercado é que existem companhias aéreas muito boas, com equipes de gestão excelentes, mas que enfrentam problemas que estão fora de seu controle, principalmente a volatilidade cambial, que muitas vezes gera dificuldades financeiras”, afirmou Walsh.
“As empresas estão fazendo tudo certo, gerenciando tudo o que podem controlar, mas aí ocorre uma grande mudança cambial, principalmente em relação ao dólar americano, e isso leva à redução ou até mesmo ao desaparecimento da lucratividade.”
Anunciado em janeiro, o memorando de entendimentos que poderia levar a uma fusão das duas gigantes do setor foi encerrado oficialmente no final de setembro. À época, o cenário operacional das companhias era diferente, com a Gol se organizando para sair do Chapter 11 (a recuperação judicial, nos Estados Unidos) e a Azul até então sem indicar que entraria em recuperação nos EUA -o que aconteceu em maio.
Desde então, a Azul focou seu processo de reestruturação financeira e pausou as conversas com o grupo Abra, que controla a Gol. Sem negociações no curto prazo e com a crescente pressão de órgãos reguladores como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por indicações do que seria feito, as companhias anunciaram o fim das tratativas.
Em setembro, quando anunciou a desistência do processo, a Abra disse que continuava acreditando em uma combinação de negócios e se disse pronta para avançar com o processo. A Azul, por outro lado, não sinalizou ao mercado da mesma forma.
Além da Gol, a Abra controla a Avianca, gigante colombiana que também opera no Brasil. Com a impossibilidade da fusão, o grupo decidiu retirar as ações da Gol em circulação na B3, a Bolsa de Valores do Brasil, e promover uma reestruturação acionária, iniciada há pouco mais de um mês.
Nesta segunda-feira (8), a Abra anunciou ter apresentado confidencialmente uma declaração de registro preliminar à SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) para uma oferta pública inicial de suas ações ordinárias no mercado norte-americano.