Betty Faria diz que fez 'Tieta com alma gay' e que é uma 'chatice' falar de etarismo
Por Guilherme Luis/Folhapress em 09/05/2025 às 09:53

Betty Faria é como sua Tieta, mas nem sempre. Aos 83 anos, a atriz se diz tão contestadora quanto a personagem mais emblemática que já fez – reclama, por exemplo, do avanço do conservadorismo, critica as limitações que Donald Trump impôs a pessoas transexuais nos Estados Unidos e afirma que Jair Bolsonaro e outros líderes políticos pelo mundo afora representam uma seita tradicionalista.
Vez ou outra, no entanto, revira os olhos e diz coisas que poderiam, hoje, ser associadas a uma conservadora. É o caso de quando afirma desaprovar mulheres que chegam à meia-idade reclamando de falta de oportunidades.
“Acho uma chatice, tenho vergonha. Sou contra muito queixume, não sou de ficar de mimimi”, diz. “Não uso a palavra ‘etarismo’, porque ela está muito em voga. Eu sinto isso, sim, desde a hora que acordo, mas passo por cima. Vou vivendo e trabalhando e acho que assim posso dar um bom exemplo para as mulheres que estão se perdendo. Isso me interessa mais.”
Homenageada em um desfile da Misci no final de abril, a atriz cruzou a passarela com olhar firme, às vezes sorria, mas sem muita firula – ficou ali por poucos minutos. Nem arrancou a etiqueta da roupa, visível sob o tecido transparente da camisa azulada, solta no corpo. Vestia ainda uma calça da mesma cor e, nos pés, sapatos marrons. O evento aconteceu na Fundação Bienal, no parque Ibirapuera, em São Paulo.
“Gosto de moda, mas sou muito básica. Sou uma senhorinha bonita, arrumadinha, vaidosa, bem tratada. Mas não sou repuxada. Se fosse, só poderia fazer personagem rica”, afirma.
Faria entrou de braços entrelaçados com Airon Martin, criador da Misci, que organizou o desfile para homenagear “Tieta”, novela de 1989 que impulsionou a carreira da atriz quando ela tinha 48 anos. Para isso, o estilista desenhou looks que lembram o Nordeste e a sensualidade, símbolos da personagem, com estampas inspiradas na fauna da caatinga.
Tieta é considerada uma das figuras mais charmosas da TV. A novela está sendo reexibida à tarde, no Vale a Pena Ver de Novo, com bons índices de audiência. “Fiquei encantada com esse retorno. Me pergunto por que estão gostando tanto dela, tão rebelde, dado este mundo cada vez mais tradicionalista. A geração atual é muito reprimida, então me surpreendi”, diz a artista.
Na trama, Tieta é expulsa de casa por ser considerada libertina e imoral. Em São Paulo, ela se torna dona de um bordel, enriquece e retorna à cidade natal. Com desejo de vingança, enfrenta a irmã Perpétua, vivida por Joana Fomm.
A novela virou um marco da teledramaturgia. “Foi um presente. Tieta traz esperança, liberdade, fala de respeito às diferenças. Ela tinha uma amiga, Ninete, personagem de Rogéria, que era trans. Minha personagem era abaixo ao preconceito. Fiz uma Tieta com alma gay”, diz Faria.