Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.

MPF denuncia 10 por esquema de tráfico internacional pelo Porto de Santos

Por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News em 23/05/2025 às 15:00

Reprodução
Reprodução

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou seis homens e quatro mulheres acusados de integrarem organização criminosa voltada ao tráfico internacional de drogas por meio de navios, que zarpam principalmente do Porto de Santos com destino à Europa, e de lavarem o dinheiro oriundo dessa atividade. A Polícia Federal (PF) identificou o grupo no âmbito da Operação Emergentes. Saiba quem são os denunciados no final deste texto.

A pedido da PF, o órgão acusador requereu o compartilhamento das informações coletadas na Emergentes com outras investigações em curso. O objetivo do MPF é apurar a eventual participação de mais envolvidos, esclarecer outros delitos da organização criminosa e, se for o caso, ajuizar futuras ações. O juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos, deferiu essa solicitação.

“Autorizo o compartilhamento de todos os elementos de prova carreados a estes autos a fim de que, confirmada a existência de justa causa, sejam instaurados tantos outros inquéritos policiais quanto forem necessários para tais apurações”, decidiu Lemos. Ele também determinou a redistribuição da denúncia ao juízo da 6ª Vara Federal de Santos, a quem cabe analisá-la e, em caso de recebimento, presidir a instrução do feito.

Subscrita por cinco procuradores da República integrantes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPF em São Paulo, a inicial acusatória tem 84 páginas. Nela foi feita uma meticulosa análise das informações coletadas pela PF no inquérito da Emergentes. Esse nome faz referência aos alvos da operação, que estão começando a se sobressair no narcotráfico internacional por meio do cais santista.

A organização criminosa possui estrutura complexa e existe, ao menos, desde 2021. “Há estabilidade e permanência, além do evidente ajuste prévio entre os investigados, com tantas conversas identificadas, principalmente no aplicativo WhatsApp, a partir da quebra de sigilo de dados, tratando de transporte de drogas e de transferências de altos valores, incompatíveis com a renda lícita auferida pelos membros”, detalhou o MPF.

Mergulhadores

Para a remessa de cocaína ao exterior, o grupo adota duas técnicas principais, conforme a PF apurou. Uma delas é o “rip on/rip off”, que consiste na introdução de cocaína em contêineres sem a ciência do exportador. Como alternativa à contaminação dos cofres de carga, a organização criminosa passou a ocultar drogas em seachest ou caixa de mar, compartimento do navio situado abaixo do nível da água.

A seachest tem a função de captar água para o resfriamento das máquinas da embarcação. Para utilizá-la como esconderijo de drogas, as quadrilhas especializadas passaram a contar com mergulhadores profissionais entre os seus integrantes. Conforme diálogos telefônicos interceptados pela PF, um dos denunciados, que foi preso em Lisboa, Portugal, coordenaria o trabalho desses membros.

As investigações revelaram indícios de lavagem de dinheiro. Apenas parte dos acusados movimentou junta mais de R$ 4 milhões em curto período de tempo, inclusive mediante depósitos fracionados. Essas movimentações financeiras também se consumaram por meio de empresas vinculadas aos denunciados, sem que eles tivessem lastro econômico para tais operações.

Gabriel Martinez Souza, o Fant, foi capturado no mês de março em Lisboa

Os denunciados

Apontado como o cabeça da organização criminosa, Gabriel Martinez Souza, o Fant, é o acusado que foi capturado em Lisboa, onde estava residindo, no último dia 11 de março. Nessa data, a PF deflagrou operação para cumprir diversos mandados de prisão e de busca e apreensão. Em razão de morar em Portugal, Fant exerceria papel fundamental no recebimento e na distribuição do entorpecente em solo europeu.

Acusado de ser o número dois do esquema, Bruno Costa Calixta, o Boy, seria ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Gustavo Alves de Freitas e Enil Marcos de Souza, conforme o MPF, recrutariam pessoas para a operacionalização da remessa de cocaína à Europa e atuariam efetivamente na logística da colocação e retirada do entorpecente dos navios.

Thiago Henrique Dias Lopes, o Trick, e Glayce Rodrigues de Souza, segundo pormenorizou a denúncia, executariam funções subordinadas, de natureza operacional, como guarda e transporte de drogas e valores. Além disso, providenciariam a logística necessária ao funcionamento das atividades ilícitas do grupo. Como se diz na gíria, a dupla seria responsável pelos “corres” da organização.

Gabryela Calixta Santos (sobrinha de Boy), Isabele Rodrigues da Silva, Adriana Maria Rodrigues Vieira (companheira de Boy) e Guilherme Augusto Miyasato Greco são citados na inicial como membros do “núcleo financeiro” do grupo. Eles ocultariam e dissimulariam os valores obtidos a partir do tráfico internacional, desempenhando papel fundamental à manutenção da estrutura criminosa.

Gustavo, Trick e Glayce foram denunciados apenas por integrar organização criminosa, enquanto aos demais acusados foram imputados esse delito e o de lavagem de dinheiro. Em relação a essa mulher, o MPF citou na inicial que, em agosto de 2021, ela teria sido presa com cocaína pertencente a Fant, sendo solta após supostamente pagar propina exigida por “policiais corruptos” de uma delegacia da Polícia Civil da região.

* Por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News

loading...