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Após cinco meses de proibição de celulares em escolas, entenda o que mudou

Por Maria Clara Pasqualeto em 20/06/2025 às 05:00

Reprodução/Freepik.
Reprodução/Freepik.

Em 13 de janeiro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 15.100, estabelecendo a proibição do uso de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares e consoles de videogames, nas escolas. O objetivo, de acordo com o regulamento, é em prol da saúde mental, física e psíquica das crianças. Deste modo, após cinco meses da imposição desta nova regra, entenda como escolas da região se adaptaram.

Adaptação no ensino privado

Segundo Marilisa Grottone, diretora do Colégio Santa Cecília, a adaptação à nova lei não foi fácil nesses últimos cinco meses, e exigiu muito trabalho, não apenas por parte da instituição escolar, mas, do mesmo modo, dos próprios estudantes e responsáveis.

“Antes de iniciar o período letivo, nós já mandamos uma circular para os responsáveis, dando as normas governamentais. Então, fizemos palestras com alunos e conversamos com seus pais. Os alunos foram orientados previamente sobre o não uso dos aparelhos em sala de aula, e os professores nos ajudaram muito nessas questões, porque, hoje em dia, as crianças já ‘nascem com o celular na mão’. Para eles, realmente é uma dificuldade. Então esse trabalho não dependia somente da escola, mas, também, da conscientização da família”.

Apesar de uma certa dificuldade no início, Marilisa conta que os resultados estão sendo extremamente satisfatórios, contribuindo cada vez mais no desenvolvimento principalmente social dos alunos. Do mesmo modo, ela menciona a adaptação da digitalização das aulas como fator importante para a educação, devido a grande quantidade de laboratórios na instituição.

“Foi um trabalho muito bem feito da escola, e há uma cooperação muito grande por parte das famílias. Sistematicamente, melhorou muito. Porém, ainda há alguns alunos do ensino médio que ainda são insistentes. Então, nós cumprimos um regimento interno, porque ninguém pode falar que não sabia, que desconhecia das medidas implementadas. O professor que utilizava de materiais digitais para a educação continua utilizando os equipamentos, pois todos as nossas salas são estúdios. Quando se faz necessário fazer uma atividade ou avaliação, temos muito laboratórios de informática na escola, disponíveis à utilização”.

A respeito do contato dos estudantes com os responsáveis, e vice versa, a diretora explica que a escola está sempre preparada para atendê-los para o que precisarem.

“Muitos de seus pais trabalham fora de Santos, então os alunos deixam os seus celulares guardados na mochila, mas não fazem uso dos equipamentos. Dentro da escola, qualquer coisa que os pais precisem, cabe a coordenadora dessas áreas, inclusive do ensino médio, contatar os responsáveis. Então, para qualquer coisa que eles precisem ou que os filhos precisem, eles têm o acesso direto com a coordenadora”.

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Além disso, Marilisa cita poucos problemas no dia a dia, e, quando há, de fato, alguma situação problemática, há todo um preparo por parte da equipe.

“Diariamente, há dois ou três alunos que são retirados de sala por causa do uso dos celulares. Mas nunca deixamos de comunicar aos pais, nunca deixamos de dar uma advertência interna. A coordenadora conversa de novo, mostra as normas, a obrigatoriedade. Eles nunca se negam a dizer que não sabiam, porque eles sabem. E é sempre a mesma desculpa: ‘Não, eu não estava usando, só fui ver a hora’. ‘Não, eu fui ver se a minha mãe estava me ligando’. Então, eles já sabem, a mãe nunca precisa ligar para eles, a mãe liga, e se tiver algum problema, nós chamamos, e eles vêm na sala da orientadora. O contato da família é sempre muito presente aqui dentro da nossa escola”.

“Eles batem muito mais papo hoje em dia, jogam cartas, fazem brincadeiras de ‘forca’… batem muito mais papo porque, antes, não conversavam. Houve uma sociabilização muito maior, isso, observamos muito”, finaliza a diretora do Colégio Santa Cecília, ao explicar do desenvolvimento contínuo dos estudantes.

Adaptação no ensino público com a proibição de celulares nas escolas

De acordo com Vanessa de Oliveira, dirigente regional de ensino da Diretoria de Ensino – Região Santos, os primeiros passos do ensino público foram o mesmo em comparação ao ensino privado. Ou seja, a comunicação.

“Com relação às escolas estaduais, houve um primeiro momento de conscientização dos estudantes com relação à lei. Sempre que há uma implementação de uma nova lei, o primeiro movimento é o diálogo com os estudantes e com as famílias, porque o apoio da família é fundamental para que o trabalho se efetive na unidade escolar.  Então, a primeira mobilização das equipes escolares, aqui da Diretoria de Ensino de Santos e das outras escolas do Estado de São Paulo, foi esse diálogo com os estudantes, essa conscientização do porquê a lei foi implementada”.

Quando se trata do desempenho acadêmico, a dirigente regional menciona uma melhora considerável não apenas em notas ou maior capacidade de concentração nas aulas, porém, simultaneamente, na sociabilização entre os alunos, algo que, segundo ela, ‘eles mesmos percebem e falam sobre isso’.

“A gente tem realizado visitas às escolas, a equipe dos Supervisores de Ensino e a equipe da Diretoria de Ensino também mobilizou uma ação recente com foco no pedagógico. E, uma das falas dos estudantes que participaram dessa ação, é essa fala do quanto o ‘desplugar’ dos aparelhos, dos celulares, ajudaram eles a se concentrar mais nas aulas, a tirar mais dúvidas com os professores e com os próprios colegas, em agrupamentos que eles fazem em atividades do dia a dia. Principalmente no horário dos intervalos, eles começaram a conversar mais entre si”, já que não estão com o aparelho celular em mãos'”.

Caso algum comportamento compulsivo por parte do estudante seja notado, durante o período sem uso de celulares nas escolas, Vanessa também cita apoio psicológico e emocional disponível, bem como inclusão a atividades físicas e saudáveis.

“Temos todo um trabalho socioemocional que é o ‘programa Conviva’, trabalhando não só com relação ao vício no aparelho celular, mas, principalmente, com relação ao aspecto socioemocional dos estudantes. Promovemos intervalos dirigidos, trazendo um olhar para as atividades físicas, até com dança, música no intervalo, para que eles resgatem o olhar para as interações, com jogos, e até mesmo na quadra. E tem também a atuação dos psicólogos da educação: se é percebido pela unidade escolar algum comportamento do estudante ligado ao vício no celular, é feito todo um trabalho de conversa, de orientação, de tentar acalmar o estudante. Isso em qualquer situação, não só com relação ao uso do celular. Mas hoje, passados cinco meses, a gente não vê mais esse tipo de necessidade do estudante”, finaliza a dirigente regional.

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