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Mãe atípica se desdobra entre Praia Grande e SP para acompanhar filho gêmeo internado

Por Santa Portal em 01/07/2025 às 05:00

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Mãe de três meninos, Letícia Spinoza, de 29 anos, divide a rotina entre Praia Grande, no litoral de São Paulo, e a capital paulista para acompanhar Gael, de apenas 7 meses, que enfrenta uma série de complicações de saúde desde que nasceu prematuro, ao lado do irmão gêmeo. Sem emprego formal há dois anos, por conta do tratamento do primogênito, Theo, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), ela busca crescer nas redes sociais, onde compartilha os desafios da maternidade atípica e da luta por assistência médica adequada.

Gael nasceu no dia 22 de novembro de 2024, em Santos, pesando 1,620 kg e medindo 40 cm. Era um bebê PIG – pequeno para a idade gestacional – e foi levado diretamente para a UTI. “Com 24 horas de vida, ele teve um sangramento, precisou ser entubado e fazer transfusão de sangue”, lembra Letícia, que mora no bairro Parque das Américas. O bebê é irmão gêmeo de Levi, que nasceu saudável. Os irmãos vieram de uma gestação com embriões, placentas e bolsas diferentes.

Com 12 dias de vida, Gael sofreu a primeira insuficiência cardíaca e respiratória. Aos 35 dias, foi transferido para um hospital em São Paulo. Lá veio o diagnóstico de tetralogia de Fallot, uma malformação cardíaca grave, além de hipertrofia nas válvulas do coração, que dificulta a passagem do sangue para os pulmões. “Ele teve duas paradas cardiorrespiratórias, várias infecções hospitalares e precisou de transfusões. Mas sempre lutou para sobreviver”, conta a mãe.

Alta hospitalar

Após cinco meses internado, Gael teve alta no fim de abril, com a promessa de atendimento domiciliar (home care) pelo plano de saúde. No entanto, segundo Letícia, o serviço oferecido era insuficiente. “Recebemos apenas uma enfermeira, uma nutricionista e uma pediatra uma vez por mês. Mas ele precisava de muito mais”. Durante esse período, Levi ficou sem amamentação materna. Porque o leite secou quando os gêmeos tinham 3 meses por causa da falta de estimulação e cansaço da mãe.

Gael foi diagnosticado com desnutrição grave e deveria ter acompanhamento semanal com pediatra, além de fisioterapia respiratória, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e equipamentos como bomba de infusão, oxigênio e aspirador de secreção. “Tivemos que alugar a bomba do nosso bolso no primeiro mês”, afirma.

A falta de assistência agravou o quadro de Gael. “No dia 19 de maio ele começou a tossir. No dia 25 fomos ao pronto-socorro, mas, mesmo com tosse e raio-X alterado, ele foi liberado. Na madrugada do dia 1º de junho, broncoaspirou e precisou ser entubado. Estava com pneumonia nos dois pulmões”, relata. De volta à UTI, Gael foi diagnosticado com uma bactéria resistente na traqueia, comum em crianças com baixa imunidade.

Arquivo pessoal

Luta na Justiça e vaquinha

Letícia entrou com uma liminar judicial para exigir o serviço completo de home care e precisou criar uma vaquinha para pagar os advogados. A meta de R$ 3,3 mil foi atingida, a liminar foi aceita e a operadora já prepara uma equipe multidisciplinar. Enquanto isso, a mãe se desdobra entre o hospital e os outros dois filhos: Levi, o irmão gêmeo, e Theo, de 4 anos, que é autista. O dinheiro que sobrou tem sido utilizado para pagar as passagens para São Paulo.

“Só pode ficar um acompanhante com o Gael, então a gente reveza. Meu marido trabalha durante a semana e vai para São Paulo na sexta à noite. Nos outros dias, revezo com minha mãe ou minha irmã. Enquanto isso, alguém cuida dos meninos em casa”.

Sem renda fixa, além da do marido de Letícia, a família sobrevive de trabalhos informais. “Minha mãe faz faxina, minha irmã vende doces na rua. Eu não tenho emprego formal há dois anos por causa das terapias do Theo. Faço unhas, vendo lingerie e semijoias. Enquanto isso, vou tentando crescer nas redes sociais”, diz.

Cirurgia sem previsão

A cirurgia cardíaca de Gael ainda não tem data para acontecer. Ele precisa ganhar peso, o que é difícil devido à desnutrição e ao esforço do coração. “Ele gasta mais energia do que consegue consumir. É uma luta diária.”

Letícia segue atualizando a rotina da UTI e da vida em família nas redes sociais, no Instagram e no Tiktok. “É cansativo, mas é por ele. Só queremos o que é de direito. Que ele possa voltar para casa com segurança”.

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