Afastado do cargo e alvo de investigação federal, “prefeito influencer” vende amendoim em Praia Grande; VÍDEO
Por Santa Portal em 24/11/2025 às 10:00
O prefeito afastado de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), surpreendeu banhistas e turistas ao aparecer vendendo amendoim na faixa de areia de Praia Grande, neste sábado (22). Conhecido como “prefeito influencer” pelo uso constante das redes sociais, ele publicou um vídeo mostrando a ação e agradecendo o público pela receptividade.
“Hoje vim vender amendoim em Praia Grande. Todos vocês sabem a situação que estou passando. Quero agradecer o carinho dos turistas e da população. Vendemos mais de mil amendoins, mas não é pra mim, é pra ONG Felizcidade, que atende crianças com Transtorno do Espectro Autista”, declarou no vídeo.
A aparição ocorre em meio à crise política que envolve o ex-mandatário de Sorocaba, afastado do cargo por determinação do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), que o aponta como líder de uma “extensa e complexa estrutura criminosa” voltada ao enriquecimento ilícito por meio de contratos públicos, acusações que ele nega.
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Investigação
O grupo, segundo a PF (Polícia Federal), é responsável por desvios milionários em mais de uma frente contratual. A decisão que afastou Manga fala em uma “suposta contabilidade paralela que evidenciaria o funcionamento da organização criminosa” com lançamentos de valores a partir de contratos de saúde, transporte público, coleta de lixo, serviços de engenharia e também de vigilância patrimonial.
A defesa de Manga disse à Folha de S.Paulo que a operação é nula, fruto de perseguição política, e que a Justiça Federal não é competente para julgar o caso. Em nota, afirma ser “indiscutivelmente temerário o afastamento do prefeito baseado em ilações sobre supostas irregularidades investigadas”.
“Os supostos fatos remontam ao ano de 2021, o que demonstra ausência de qualquer contemporaneidade capaz de colocar em risco a continuidade do exercício do legítimo mandato do chefe do Executivo. Mandato este, inclusive, conquistado nas urnas, de forma legítima e maciça”, continuou.
A decisão do TRF-3 também o proibiu de conversar com servidores públicos e decretou, além disso, a prisão preventiva de três pessoas apontadas como operadoras do suposto esquema.
Duas delas são amigas pessoais de Manga: o empresário Marcos Mott e o pastor evangélico Josivaldo de Souza. A defesa de Mott afirma que a prisão é desnecessária e se baseia em conjecturas e suposições. A Folha de S.Paulo ligou e deixou recado para o advogado que representa o pastor, mas não obteve retorno.
A terceira, por sua vez, chama-se Simone Frate de Souza. Ela é cunhada do prefeito afastado e a esposa de Josivaldo. Está foragida desde o dia da operação, na quinta passada (6). Segundo a PF, Simone e o pastor Josivaldo atuavam também para lavar o dinheiro desviado da administração municipal.
Da saúde, diz a PF, os desvios eram originados na organização social Iase (Instituto de Atenção à Saúde e Educação), contratada pela gestão Manga para gerenciar unidades de saúde em Sorocaba.
A investigação afirma que a entidade subcontratava empresas de fachada para justificar despesas superfaturadas. Os valores eram posteriormente sacados e entregues a integrantes do esquema.
Em nota, o Iase afirmou estar “certo de que será comprovada a inexistência de práticas ilegais no curso da relação contratual mantida com Sorocaba, não havendo assim elementos que justifiquem nova ação cautelar em seu desfavor”.
“O Iase não foi alvo de medidas judiciais na atual deflagração da operação, o que corrobora que, no curso das investigações, não foram detectadas irregularidades em sua atividade institucional”, disse.
A origem das propinas, diz a PF, estava registrada de forma cifrada em planilhas encontradas com a cunhada de Manga, foragida, e o pastor Josivaldo, preso, às quais a corporação se refere como itens de contabilidade paralela da organização criminosa.
Nessas planilhas havia menção aos pagadores.
Em uma das tabelas havia menção a “City”. Segundo as investigações, o termo apareceu 11 vezes num intervalo de tempo de apenas quatro meses com valores que, somados, chegam a R$ 1,7 milhão –o contrato, por sua vez, já passou de R$ 1 bilhão. A Folha de S.Paulo procurou a concessionária nesta quarta-feira (12), mas não obteve retorno.
Em outra frente havia o termo “lx”, que segundo a PF é uma anotação cifrada para o contrato de coleta de lixo no município. A corporação vê indícios de que R$ 2,8 milhões do contrato de coleta tenham sido desviados.
As suspeitas atingem ainda uma empresa de engenharia contratada pelo Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Sorocaba e uma prestadora de serviço voltado a vigilância patrimonial de prédios da autarquia de saneamento básico.
Além dos apontamentos de propina, a PF diz também que Manga atua para descredibilizar a operação desde que foi alvo da primeira operação, em abril deste ano.
Na época ele gravou vídeo e promoveu, segundo a corporação, “um bizarro espetáculo de deboche e desdém que rapidamente ganhou repercussão nacional”.
A investigação diz que Manga zomba “audaciosa e desavergonhadamente dos órgãos responsáveis pela persecução penal” e ainda explora isso economicamente.
A PF descobriu mensagens, por exemplo, em que a mulher do prefeito afastado, Sirlange, discute como monetizar vídeos no TikTok em que Manga se diz vítima de perseguição. Em um dos trechos, Manga diz que a medida tornaria a repercussão do vídeo menor. “Mas traz dinheiro”, disse a esposa.
Em nota, a defesa de Sirlange afirmou que “todas as operações financeiras mencionadas na investigação são lícitas, corroboradas por documentação e devidamente declaradas ao imposto de renda”.
Disse também que Sirlange não foi intimada a prestar depoimento, mas que já demonstrou às autoridades “a licitude e regularidade de todas as operações financeiras e de todos os serviços prestados”.
A mulher de Manga foi exonerada no último dia 13 da presidência do Fundo Social de Solidariedade. A decisão foi tomada pelo prefeito Fernando Martins da Costa Neto (PSD), informou a administração em nota.
*Com contribuição de André Fleury Moraes, da Folha de São Paulo