Indústria aponta gargalos e vê São Paulo como chave para avanço do setor de petróleo e gás
Por Santa Portal em 26/06/2025 às 20:00

Com novos campos sendo descobertos e leiloados, além da perspectiva de ampliação da infraestrutura, o mercado nacional vê os próximos anos como perfeitos para crescimento, investimentos e inovações. Entretanto, para aproveitar o horizonte de possibilidades no setor de petróleo e gás, inclusive em São Paulo, será necessário superar lacunas importantes. Para que as projeções se confirmem — ou até sejam superadas — o setor precisa avançar.
O quadro atual foi apontado nesta quinta-feira (26), durante o segundo dia do SP Offshore. O evento ocorre no Santos Convention Center, no bairro da Ponta da Praia, em Santos.
O primeiro a citar a necessidade de incrementos foi o membro do conselho do Brazilian Energy Council (Brenc) e presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy. “Nós escutamos as grandes operadoras, a Petrobras, a Equinor, a Shell e outras, dizendo o que vão demandar nos próximos anos. Agora, a indústria paulista e brasileira está preparada?”, questionou, antes de apontar o que as empresas nacionais ainda não são capazes de suprir.
“Nós não conseguimos construir os FPSOs (navios-plataformas), que são as grandes unidades produtoras de petróleo e gás. Hoje, são produzidas no exterior, nos estaleiros da China e da Índia. Faltam também equipamentos mais sofisticados, como separadores de óleo e água e turbogeradores de última geração”, apontou.
Apesar disso, no entendimento dos painelistas, há fatores suficientes para que a situação seja contornada. Por exemplo, o presidente do Conselho da O&G da Abimaq e diretor da Tenaris, Idarilho Nascimento, ressaltou que “o Estado conta com adensamento industrial”, o que cria oportunidades. Já o gerente executivo de Suprimentos da Petrobras, Alexandre Gomes Alves, afirmou que “São Paulo tem potencial muito grande para ajudar. Temos universidades que formam mão de obra qualificada, vocação para setores, indústrias e muito fomento”.
A gerente de contas estratégicas da ABB, Ana Marques, seguiu a mesma linha de raciocínio. “Enxergamos o Estado como diferencial competitivo para o mercado offshore. Vemos fatores fortes, como a base tecnológica e os portos”.
Além disso, para o presidente da divisão Brasil da empresa Wood, Eduardo Chamusca, a localidade precisa encontrar o que chamou de “questão de vocação, de talento natural”, para avançar. Neste sentido, o presidente da Abespetro, Telmo Ghiorzi, foi além: “É possível acumular competências. Nós podemos construir competências”.
Descomissionamento: um novo desafio (e oportunidade)
Outra lacuna identificada diz respeito ao descomissionamento, que é o processo de retirada de instalações offshore, como flutuantes, linhas submarinas e plataformas, quando elas chegam ao fim da vida útil. Hoje, não há locais no Brasil para que essas estruturas sejam desmontadas. Assim, as empresas as enviam para outros países, que acabam ficando com os recursos oriundos do serviço
Essa realidade preocupa as operadoras. Segundo o líder de Descomissionamento e Restauração da Shell, Daniel Galgoul, a multinacional recentemente precisou direcionar o FPSO Fluminense para a Dinamarca. “O navio tinha 390 metros de comprimento, o que limitava o local em que poderíamos o enviar. Mapeamos 106 estaleiros. Ficou difícil trazê-lo para o Brasil”.
Diante deste e de outros casos similares, o gerente de Projetos de Descomissionamento da Petrobras, Carlos Castilho, lamentou a falta de infraestrutura nacional. “Não deveríamos descomissionar em outro país. Estamos perdendo oportunidades”.
Para que esse cenário seja revertido, segundo os especialistas, as empresas deste segmento precisam se desenvolver. E, neste sentido, São Paulo seria o local ideal. “O Estado tem capacidade para participar deste mercado”, assegurou Oswaldo Rodrigues, gerente de projetos da Modec.
No entanto, para que isso aconteça, é preciso enxergar o processo como uma oportunidade. “O desafio principal é entender que a demanda existe. Só de linha, são mais de quatro mil quilômetros, e isso é aço, um material que você recicla 100%. Isso é economia circular forte. Só que precisamos da colaboração de todos, inclusive da indústria — e São Paulo é um celeiro de oportunidades. Vejam como oportunidade”, pediu Castilho.
O gerente de compras de metálicos da siderúrgica Gerdau, André Guardin, espera que “a chave” vire. Afinal, investimentos no setor permitiriam o desmantelamento das estruturas no Brasil, fazendo com que milhares de toneladas de sucata fossem reaproveitadas e gerassem riqueza. “Serão gerados empregos. É um baita negócio”.
O evento
O SP Offshore, que chegou a sua segunda edição, terminou com um saldo positivo e avanços concretos para o setor. Ao longo dos dois dias, o evento recebeu mais de 1.500 visitantes e movimentou o ambiente de negócios com mais de 200 rodadas de negociação.
Um dos principais marcos foi a assinatura de dois documentos estratégicos: um memorando de entendimento entre a Petrobras, o governo paulista, a InvestSP e o Brazilian Energy Council (Brenc); e o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), que abre caminho para o leilão do Porto de São Sebastião. Este último tem objetivo de consolidar São Paulo como protagonista na indústria offshore, viabilizando a implantação de uma nova base de apoio marítimo no litoral norte.
Para o coordenador do Comitê de Desenvolvimento do Offshore Paulista e diretor-fundador do Brenc, Eduardo Varela, o resultado do congresso reflete o fortalecimento do setor: “Superamos expectativas. Foi um sucesso absoluto e significativo”.