Estivador de Santos faz greve de fome em Brasília contra mudança na contratação de trabalhadores portuários

Por Santa Portal em 21/10/2025 às 05:00

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O estivador Marcelo Arthur de Carvalho, de 55 anos, iniciou na manhã desta segunda-feira (20) uma greve de fome em frente ao Congresso Nacional, em Brasília (DF). O motivo do protesto é a possível aprovação da PL 733 que, dentre outros itens, prevê o fim da exclusividade da contração de trabalhadores avulsos via Ogmo (Órgão Gestor de Mão de Obra), o que permitiria aos operadores portuários contratar trabalhadores certificados diretamente.

“Eu tinha falado na assembleia passada sobre uma greve de fome. O presidente (Bruno José dos Santos, do Sindicato dos Estivadores), bem sabiamente, falou que não era possível, porque nem todo mundo tem esse psicológico. Não é todo mundo que aguenta. Fui para a minha casa e, como Deus transformou a minha vida, em oração, Deus tocou no meu coração. No começo a minha família relutou, mas quando eles viram que eu estava (lutando) pelo certo, pelo pão da nossa casa e pelos meus companheiros de trabalho, elas todas me apoiaram. Agora eu me encontro aqui. Declarei uma greve de fome porque sei que Deus vai me dar forças, vai me manter”, disse Carvalho, que há 32 anos trabalha como estivador no Porto de Santos, em vídeo enviado para outros trabalhadores portuários.

“O chefe-geral da Polícia Legislativa, depois de muita gente me interpelar, veio falar comigo e me deu toda a atenção. Expliquei para ele a PL 733, o motivo da exclusividade, eles não queriam me deixar aqui. Falaram que não pode ficar a menos de 100 metros do Congresso, do lado interno não posso. Depois de me ouvir, ele chamou agentes da Polícia Federal. Eles permitiram que eu pendure um banner no meu corpo, dizendo que estou em greve de fome, contra a perda da nossa exclusividade. Não sou contra a PL 733 como um todo, porque existem muitas coisas boas ali. A modernização, a gente sabe que ela é inevitável, mas a perda da nossa exclusividade, esse é o motivo de eu estar aqui. Trouxe a minha bíblia e a minha mochila, estou aqui com Deus, sei que Deus está ao meu lado”, afirmou.

Segundo o trabalhador portuário, a sua greve de fome não tem prazo para acabar. Ele pretende ser ouvido pelos deputados federais, para que mudanças sejam feitas no texto final da PL 733.

“Eu não arredo o pé daqui. Se eles querem ver uma família portuária morrer, da noite para o dia, sem ter como colocar o pão na mesa, então eles vão ver um homem definhar na frente deles, como eles não querem assistir. Vou definhar na frente deles. Que Deus me dê forças, estou aqui porque eu amo a minha profissão, a minha família e Deus acima de todas as coisas. Tenho respeito enorme por cada um de vocês (companheiros de trabalho), não quero cargo, não quero nada disso. Só quero acordar no outro dia com a certeza de vou ter como trabalhar para colocar o pão na mesa com dignidade. A gente não pode se entregar sem guerrear. Eu represento cada um da gente”, concluiu.

O projeto de lei está em tramitação na Comissão Especial da Câmara dos Deputados e a expectativa é que a proposta seja votada até o início do próximo ano.

Além da mudança no regime de contratação dos trabalhadores portuários, a PL 733 quer alterar a legislação do setor portuário, regulamentando a exploração, a operação portuária e o trabalho portuário. As mudanças incluem a redefinição de competências da Antaq, além da possibilidade de novas prorrogações de contratos.

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