Júri de rapaz acusado de asfixiar a mãe para ficar com a herança é marcado
Por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News em 30/11/2025 às 12:00
O juiz Edmilson Rosa dos Santos, da 3ª Vara Criminal de Guarujá, no litoral de São Paulo, marcou para os dias 16 e 17 de abril de 2026 o júri popular de um jovem acusado de matar a mãe para ficar com a herança. Além do homicídio qualificado, o réu também será julgado pelo crime conexo de fraude processual.
O assassinato de Márcia da Quadra, de 44 anos, aconteceu na noite de 21 de dezembro de 2020, em Guarujá, na casa onde ela residia com o filho, Bruno Eustáquio Vieira, de 26. Após as investigações apontarem que houve um homicídio no imóvel e o seu autor foi o rapaz, ele foi denunciado e teve a prisão preventiva decretada.
A ordem de captura foi expedida pela Justiça no dia 1º de junho de 2021, mas Bruno permaneceu foragido por mais de três anos. Sem que a polícia o encontrasse, duas tias do réu, irmãs da vítima, iniciaram um incansável trabalho de busca que resultou na localização e prisão do sobrinho em 8 de julho de 2024, em Belo Horizonte.
“Na semana passada recebemos algumas pistas. Passamos a verificar um perfil no TikTok e reconhecemos a voz dele. No vídeo só aparecia uma mão alisando uns gatos, mas a voz foi o ponto crucial para concluirmos de que ela é a de Bruno”, detalhou naquela época, ao Vade News, a autônoma Marilza da Quadra.
A partir desse perfil, as tias levantaram o endereço do seu dono na capital mineira e para lá se dirigiram. Elas acionaram a Polícia Militar daquele estado, a informaram sobre o mandado de prisão contra o sobrinho e a casa onde supostamente ele se refugiava. O imóvel passou a ser monitorado, sendo Bruno capturado ao sair da moradia.

Matou e foi treinar
Segundo o Ministério Público (MP), Márcia foi assassinada no quarto. Em seguida, Bruno foi até a sala, sentou-se no sofá e ligou a televisão. Depois, ele voltou ao cômodo para se certificar da morte da mãe. Na manhã seguinte, treinou na academia. Ao retornar, simulou desespero ao achar o corpo e avisou conhecidos por telefone sobre o falecimento.
O caso foi registrado inicialmente como “morte a esclarecer”. O filho só passou a ser suspeito após a necropsia revelar que vítima morreu de asfixia mecânica mediante esganadura, sofrendo inclusive fratura do osso hioide. Testemunhas revelaram que o relacionamento de Bruno com a mãe era marcado por conflitos.
Essas pessoas informaram que Márcia possuía câmeras de segurança dentro do imóvel. Com base nesses dados, investigadores descobriram que os equipamentos de filmagem foram desconectados do DVR – equipamento gravador e armazenador de imagens –, que sumiu, mas depois foi achado escondido dentro do forno da casa.
O acesso às imagens do DVR possibilitou elucidar a dinâmica do crime. Bruno alegou que não teve a intenção de matar a mãe e apenas a empurrou em reação a suposta agressão. Para o MP, ao esconder o equipamento, o réu também praticou o crime de fraude processual, porque tentou prejudicar a investigação e induzir a erro juiz ou perito.
Quanto à motivação do homicídio, a denúncia do MP narra que Bruno se formou em Direito, não queria trabalhar e pressionava a mãe para lhe custear o curso de Medicina. Ele ainda exigiria bens e dinheiro para os seus gastos com lazer. Insatisfeito por não ser atendido, decidiu matar a vítima para herdar o seu patrimônio.
Os crimes e as penas
A data do julgamento popular foi definida na última quinta-feira (27). O magistrado reservou dois dias para o júri, “em razão da relativa complexidade do caso e pela quantidade de pessoas arroladas”. Além do interrogatório do réu, devem depor no plenário 12 testemunhas indicadas pela acusação e defesa.
Bruno é acusado de homicídio qualificado (punível com reclusão de 12 a 30 anos) pelo motivo torpe, asfixia, emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e feminicídio, que na época do fato não era um crime autônomo, mas apenas qualificadora. Pela fraude processual, o réu está sujeito a pena de seis meses a quatro anos de detenção.
*Texto por Eduardo Velozo Fuccia/Vade News