Tarcísio é pressionado por bolsonaristas e tenta articulação no STF para evitar Bolsonaro na Papuda
Por Bruno Ribeiro/Folhapress em 18/11/2025 às 15:18
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) trabalha nos bastidores para tentar convencer ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) a manter Jair Bolsonaro (PL) em prisão domiciliar e evitar uma possível transferência para a penitenciária da Papuda depois do trânsito em julgado da ação da trama golpista.
A articulação ocorre em meio a cobranças de bolsonaristas tanto por investidas junto à corte quanto por uma defesa pública mais enfática da inocência do ex-presidente, condenado a 27 anos e 3 meses por liderar a tentativa de golpe de Estado.
Há preocupação de Tarcísio, porém, em evitar que o trabalho ganhe holofotes. Segundo um interlocutor do governador, ele afirma que opera melhor quem trabalha em silêncio e que apenas as pessoas que precisam saber de sua movimentação estão a par dela.
Embora o governador tenha feito ataques ao ministro Alexandre de Moraes na manifestação bolsonarista no feriado de 7 do Setembro, na avenida Paulista, chamando-o de ditador e dizendo que ninguém aguentava mais sua tirania, aliados de Bolsonaro avaliam que Tarcísio desfez o mal-estar com a corte e teria poder de influência.
Em julho, outra atuação de Tarcísio em favor de Bolsonaro terminou com revés. Após visitar o ex-presidente, o governador telefonou para membros do STF e, na versão de interlocutores dos ministros, pediu o passaporte do ex-presidente de volta, sob o argumento de que ele poderia interceder junto a Donald Trump na crise do tarifaço imposto ao Brasil. Os magistrados acharam a ideia esdrúxula.
Tarcísio, contudo, mantém até hoje a aliados a versão de que nunca pediu o documento e que a conversa havia sido apenas uma prospecção acerca do que ele e Bolsonaro poderiam fazer para atenuar as sobretaxas.
O governador foi procurado pela reportagem para falar da nova movimentação, mas não fez comentários.
No final de semana, um artigo publicado pela Folha de S.Paulo de autoria de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência, afirmava que a prisão de Bolsonaro “é injustiça que corrói”. Entre bolsonaristas, um dos comentários em repercussão ao texto foi o de que Tarcísio é quem deveria ter feito uma manifestação desse tipo.
Além disso, pegou mal entre apoiadores de Bolsonaro uma declaração de Tarcísio nas redes sociais dizendo que o Brasil precisa “trocar o CEO”, em um ataque direto a Lula (PT). Para uma ala do grupo, a frase é mais um indicativo de que o governador prepara sua campanha presidencial -oficialmente, ele é pré-candidato à reeleição em São Paulo.
Além de defender a inocência do ex-presidente, seus aliados argumentam que a saúde de Bolsonaro está fragilizada e que ele demanda cuidados especiais, com crises de soluço severas causadas por complicações das cirurgias a que se submeteu em decorrência do atentado a faca que sofreu em 2018.
O STF publicou nesta terça-feira (18) o acórdão da decisão que rejeitou o primeiro recurso de Bolsonaro contra sua condenação, o que abriu o início do prazo para a defesa do ex-presidente apresentar novo recurso. Alexandre de Moraes, relator do caso, é quem definirá onde Bolsonaro ficará preso.
Bolsonaro tem 70 anos. A ala de idosos da Papuda tem capacidade para abrigar 177 detentos, mas mantém 340, segundo um relatório da Defensoria Pública do Distrito Federal publicado pela Folha de S.Paulo.
A equipe de Moraes, entretanto, avalia dois espaços no complexo que poderiam receber o ex-presidente: o PDF 1 (Penitenciária do Distrito Federal número 1), que tem uma ala destinada a abrigar presos que apresentam vulnerabilidade e onde políticos já ficaram presos, e o 19º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal, conhecido como “Papudinha” por ficar em frente à Papuda.