Megaexplosão causa pânico durante êxodo de Teerã
Por Igor Gielow/Folhapress em 18/06/2025 às 10:39

Uma megaexplosão ocorrida no fim da madrugada desta quarta (18), sexto dia da guerra aérea entre Israel e o Irã, causou pânico entre moradores de Teerã e acelerou o início de um êxodo da capital iraniana. “Pensei que fossem os americanos”, disse por meio de mensagem de texto Nazen, empresário de 28 anos que conseguiu contato por meio do app Signal -o WhatsApp, popular por lá, está sofrendo bloqueios do governo, que também desacelerou a internet.
Na realidade, a grande explosão e seu cogumelo de fumaça vieram da fábrica de mísseis balísticos de Khojir, nos arredores da capital. Eram aproximadamente 5h (22h30 da terça em Brasília), e o céu ficou iluminado.
Em solo, milhares de carros tentavam sair da cidade, segundo agências de notícias iranianas. O congestionamento demoveu Nazen de ir até a cidade natal de sua família, nas montanhas a noroeste da capital. “O que demorava umas cinco horas agora demora dez na estrada”, disse, antes de perder sinal.
Até a noite anterior, cerca de 20% dos 10 milhões de moradores de Teerã haviam fugido, segundo disse à rede portuguesa SIC o embaixador iraniano no país europeu, Majid Tafreshi. O processo se acelerou com a entrada de Donald Trump, retoricamente por enquanto, no conflito.
Ao longo da terça, o presidente americano deixou o distanciamento da ação para assumi-la com o sua. Primeiro, disse para Teerã ser evacuada. Depois, ameaçou o líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, de morte ao dizer que sabe onde ele está e que não o alvejará por enquanto. Por fim, exigiu rendição incondicional dos iranianos.
EUA sinalizam ação militar
Resta agora saber se as palavras serão postas em prática. Sinais para isso abundam, nem que seja para pressionar o Irã. Uma frota de quase 30 aviões-tanque dos EUA foi deslocada para a Europa, ficando próxima do teatro de operações -os israelenses só têm quatro aeronaves do tipo, então poderiam ser apoiados para missões de longa distância.
Caças e outros recursos estão a caminho de bases americanas na região, além de um grupo de porta-aviões que se juntará ao atualmente em operação perto do golfo Pérsico. Até o Reino Unido, que se mantém à distância, está enviando caças para sua base em Chipre para eventualidades.
Assim como os americanos, os britânicos também fecharam sua embaixada em Israel até sexta, o que casa com o prazo citado de dois dias por Trump para avaliar a ação de Israel.
A etapa atual do conflito de 46 anos entre Irã e o Estado judeu começou na sexta (13), quando Israel lançou um ataque preventivo visando destruir o programa nuclear dos persas após o fracasso de negociações entre eles e os americanos para evitar a fabricação da bomba atômica.
A ação, contudo, se revelou bem mais ampla: parte da cúpula militar do Irã foi morta e Israel degradou significativamente capacidades de defesa aérea e de ataques de longa distância do rival. Aos poucos, a mudança de regime entrou no vocabulário de Binyamin Netanyahu e mesmo Trump.
Isso é bem mais complexo, como relatou à reportagem um líder opositor em Teerã, e dependeria basicamente da decapitação do regime ameaçada pelos EUA. O que virá depois é uma incógnita, e os casos de manual no entorno regional não são animadores, como Líbia, Iraque e Afeganistão mostram.
A troca de fogo seguiu. Além da grande explosão da noite, a Agência Internacional de Energia Atômica confirmou que duas centrais ligadas à fabricação de centrífugas de enriquecimento de urânio do Irã foram destruídas.
Israel diz que consegue cumprir toda a missão sozinho, mas a realidade é que necessita de bombas de grande poder de penetração em bunkers que só os americanos operam para, por exemplo, destruir uma das joias da coroa nuclear iraniana, a central subterrânea de Fordow.
Começam a faltar mísseis
Ainda não há relatos de mortes no Irã. Em Israel, a noite foi marcada por mais barragens de mísseis balísticos contra centros urbanos, mas as imagens e os números divulgados pelas forças de Tel Aviv sugerem que o arsenal iraniano está ou acabando, ou sendo poupado.
Desde sexta, foram cerca de 400 mísseis lançados, fora centenas de drones mais baratos e ineficazes. Nesta noite, segundo as Forças de Defesa de Israel, foram apenas cerca de 15 mísseis, sem causar grandes danos aparentes.
O mesmo vale para o Estado judeu: segundo autoridades americanas disseram ao Wall Street Journal, Israel já está na reserva de seus mísseis de interceptação de primeira camada, de alta altitude, o chamado sistema Flecha.
Isso sugere mais um motivo para o recurso inédito à ajuda direta americana, o que nunca ocorreu apesar do apoio indispensável das armas dos EUA para as guerras de Israel. À Folha de S.Paulo, o Exército já havia confirmado que a defesa inicial contra ameaças era feita em coordenação com os aliados.
Os israelenses também admitiram a perda de um drone sobre o Irã, mas negam terem tido caças abatidos, como Teerã diz sem apresentar evidências. Em Teerã, o regime busca palavras de ordem em meio à pressão. Khamenei respondeu a Trump em uma nota dizendo que quem deve se render incondicionalmente é Israel, que agora é alvo de novíssimos mísseis hipersônicos.
Em um discurso lido por apresentador na TV nesta quarta, o líder rejeitou o ultimato. Nos bastidores, segundo relatos na mídia americana, os iranianos buscam uma forma de cessar-fogo honroso, preservando algo de seu programa nuclear, que sempre foi a peça-chave de barganha diplomática de Teerã.
Falar grosso é importante para manter a coesão do regime, que vive seu período mais fragilizado desde que o preposto Hamas lançou o ataque terrorista contra Israel em 7 de outubro de 2023. As guerras consequentes tiraram a capacidade dos aliados de Teerã na região, e de quebra o regime cliente dos iranianos na Síria caiu.
Khamenei, aos 86 anos, tem a saúde debilitada e viu seu sucessor presumido, o presidente Ebrahim Raisi, morrer num suspeito acidente de helicóptero no ano passado. Diversos auxiliares diretos, inclusive seu principal conselheiro militar, foram mortos por Israel no conflito, isolando ainda mais o líder.
Hackers atacam guarda revolucionária
A mídia local relata tiroteios em algumas cidades próximas de Teerã, sempre atribuindo o ataque a forças de segurança a terroristas pagos por Israel, mas o risco de deterioração da situação de segurança está no radar.
A sensação de instabilidade é fomentada por Israel, que em paralelo toca uma guerra secreta com espiões infiltrados, sabotagem, ataques com drones e mísseis em território iraniano e ciberataques. Na terça, o principal banco do país teve suas operação paralisadas durante boa parte do dia.
Há um relato não confirmado de que o grupo Pardais Predatórios, composto de hackers que o Irã acusa serem pagos por Israel, atacou também a Nobitex, uma bolsa de criptomoedas usada pela Guarda Revolucionária, principal ente militar iraniano, para negócios no exterior driblando sanções.
Dados de analistas dizem que a Nobitex viu 95% de sua carteira de US$ 1,8 bilhão sumir na terça, presumivelmente sendo roubada pelos hackers. Não há comentários oficiais do Irã sobre o episódio.