Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.

20/06/2025

Dólar cai na abertura após decisão do Copom e com conflito no Oriente Médio em foco

Por Folha Press em 20/06/2025 às 11:09

Reprodução.
Reprodução.

O dólar recuava ante o real nas primeiras negociações desta sexta-feira (20), com os investidores retornando de um feriado e reagindo pela primeira vez à decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 15% ao ano, enquanto as tensões no Oriente Médio continuam no radar. Às 9h05, a moeda americana à vista caía 0,37%, a R$ 5,480. Na quarta, o dólar fechou em leve variação positiva de 0,06%, cotado a R$ 5,500, e a Bolsa recuou 0,09%, a 138.716 pontos.

O movimento da última sessão foi pautado pela manutenção da taxa de juros dos Estados Unidos, em decisão amplamente esperada pelo mercado, enquanto os investidores ainda aguardavam a definição da Selic no Brasil.

O Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) manteve os juros no patamar de 4,25% a 4,50% pela quarta vez consecutiva. A decisão foi unânime entre os diretores e já era esperada pelo mercado.

Em comunicado, a autoridade monetária disse que as incertezas sobre o cenário econômico diminuíram, mas permanecem elevadas, e reiterou que segue perseguindo a meta de inflação a 2% e o pleno emprego. “O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu mandato duplo”, afirmou.

O atual patamar foi definido em dezembro do ano passado e, desde então, o Fed tem observado as perspectivas econômicas ficarem nebulosas. A principal fonte de incerteza é o governo do presidente Donald Trump, que voltou ao poder em janeiro e, em abril, instaurou pânico nos mercados ao anunciar uma reformulação na política tarifária dos EUA.

O maior desafio dos diretores do Fed tem sido projetar os rumos da inflação. A guerra comercial global de Trump tende a aumentar os preços do dólar ao consumidor como reflexo da alta dos impostos de importação. Mas não está claro se esse impacto será pontual ou duradouro.

No primeiro caso, algumas autoridades do banco central norte-americano sinalizaram que poderiam deixar as tarifas de lado na hora de decidir sobre os juros. O segundo caso, porém, exigiria mais rigidez da política monetária.

A manutenção dos juros, porém, promete intensificar as pressões de Trump sobre o BC americano. Mais cedo nesta quarta, o republicano afirmou cogitar nomear a si mesmo para dirigir o banco central por Jerome Powell, presidente do órgão, que, para ele, faz um “trabalho ruim”.

O Fed também divulgou as projeções dos membros do comitê para o restante do ano. Oito dos 19 formuladores de política monetária esperam reduzir a taxa de juros para 3,75% a 4,00% até o final de 2025, e duas autoridades consideraram que um corte adicional de 0,25 ponto seria apropriado. Sete deles acharam que não será necessário nenhum corte, em comparação com quatro em março, e dois acharam que apenas um é suficiente.

“Devemos ver o Fed mantendo a postura cautelosa nas próximas reuniões, à espera de novos dados para ganhar confiança sobre qual a trajetória que a economia está caminhando. Por um lado, nota-se a demanda perdendo força, ao mesmo tempo em que a oferta também tem perdido dinamismo, ou seja, há grande incerteza sobre qual é a inflação subjacente da economia americana após anos de inflação acima da meta”, diz André Valério, economista sênior do Inter.

“Assim, mantemos a visão que o Fed só deve atuar quando houver sinais claros de que o mercado de trabalho está em recessão.”

O cenário ficou ainda mais incerto na sexta-feira passada, quando Israel atacou o Irã e matou quase todo o alto escalão dos comandantes militares do país persa e seus principais cientistas nucleares. Israel diz que agora tem o controle do espaço aéreo iraniano e que pretende intensificar a campanha nos próximos dias.

A escalada de tensões inspira temor entre os agentes do mercado. O dólar, em geral, é visto como um ativo seguro diante da cautela global e é para onde os investidores costumam correr quando o cenário está incerto.

“Qualquer notícia nova acaba mexendo com os ativos de risco, o que dá suporte ao dólar como fonte de segurança”, diz João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.

O confronto entre Irã e Israel ameaça transformar o Oriente Médio, região rica em petróleo, em um ponto crítico. Embora ainda não tenham surgido problemas no fornecimento da commodity, a mera ameaça do conflito deixa os mercados em alerta máximo.

“A questão maior é o que acontecerá no Estreito de Ormuz e, se houver um fechamento, isso terá implicações para os preços do petróleo”, disse Jukka Jarvela, chefe de ações listadas na Mandatum Asset Management.

Na ponta doméstica, o foco esteve na decisão do BC brasileiro, que saiu após às 18h e só está sendo repercutida nesta sexta-feira devido ao feriado de Corpus Christi. Até então, as expectativas sobre qual seria o movimento do comitê estavam divididas: enquanto uma parcela dos economistas apostava na manutenção da Selic no nível de 14,75% ao ano, outra ala projetava um aumento adicional de 0,25 ponto percentual, o que elevaria a taxa básica a 15% ao ano.

Nas últimas semanas, houve grande oscilação na precificação extraída da curva de juros. Das 32 instituições consultadas pela Bloomberg, 12 acreditaram que a Selic iria subir 0,25 ponto na reunião de quarta. As outras 20 —dentre elas Bradesco, XP e Itaú – apostaram na manutenção.

Mas, independentemente da decisão, o mercado esperava consenso entre os membros do comitê. Essa expectativa remontou ao arranhão reputacional provocado pelo racha dos diretores do colegiado do Banco Central em maio do ano passado.

Na ocasião, o Copom reduziu o ritmo de corte da Selic com oposição de todos os diretores indicados pelo governo Lula (PT), em um placar de 5 votos a 4, colocando a credibilidade e o risco à autonomia da autoridade monetária em debate. Desde então, houve unanimidade entre os membros do Copom em todas as votações.

loading...