17/12/2025

Dólar abre em forte alta nesta quarta-feira com investidores avessos ao risco

Por Folhapress em 17/12/2025 às 10:20

Notas de Dolar para arquivo
Notas de Dolar para arquivo

O dólar abriu em forte alta nesta quarta-feira (17). Acompanhando o avanço da moeda norte-americana ante boa parte das demais divisas no exterior.

Os investidores estão à espera da divulgação de novos dados da economia norte-americana e de corte de juros no Reino Unido na quinta-feira (18).

Às 9h15, o dólar subia 0,58%, cotado a R$ 5,4956. Na terça-feira (16), a moeda já havia fechado em alta de 0,82%, cotado a R$ 5,463, beneficiado por um ambiente de maior aversão ao risco. Já a Bolsa fechou em forte queda de 2,41%, a 158.557 pontos.

Analistas reagiram à ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) durante o pregão, na qual o Banco Central reiterou o compromisso com a meta de inflação e reforçou a estratégia de manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano.

Os investidores ainda repercutiram uma pesquisa Genial/Quaest que mostra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderando as intenções de voto para as eleições de 2026. O levantamento também indica o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atrás do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no pleito.

Em um eventual segundo turno contra Flávio, Lula aparece com 46% das intenções de voto, ante 36% do filho do ex-presidente. Em disputa com Tarcísio, o presidente marca 45%, contra 35% do governador paulista.

No cenário em que os três concorrem pelas duas vagas do segundo turno, Lula lidera com 41%, seguido por Flávio Bolsonaro, com 23%. Tarcísio ficaria de fora, com 10% das intenções de voto.

O governador paulista é visto por investidores como um candidato mais alinhado à agenda pró-mercado e mais competitivo do que Flávio. O senador anunciou sua pré-candidatura com o aval do pai na última sexta-feira (12) —após o anúncio, o dólar disparou para R$ 5,43 e a Bolsa recuou 4%.

A divulgação dos resultados ocorreria nesta quarta (17), mas a Quaest informou que decidiu pela antecipação porque começaram a circular no mercado números não oficiais atribuídos à pesquisa. Os supostos resultados do levantamento começaram a circular entre analistas e refletiram no pregão logo cedo.

Segundo Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, a leitura de que o governador Tarcísio de Freitas perde força enquanto o senador Flávio Bolsonaro ganha espaço impactou o humor dos investidores. “O mercado leu os resultados da Quaest como uma sinalização de preferência por Lula”, afirma.

“Quando a Quaest sai mostrando o Lula forte, volta o medo de que não se concretize a alternância política. Por isso o mercado piorou,” diz ele.

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Para Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos, a pesquisa reforça a divisão na direita. “Até a eleição, cada pesquisa tende a trazer volatilidade ao mercado, que passa a precificar cada vez mais a reeleição do presidente. Esse movimento ocorre principalmente em razão da fragmentação do campo da direita, que fortalece o Lula”.

Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, avalia que, diante desse cenário, o dólar se fortaleceu em um movimento de busca por proteção, refletindo o aumento do prêmio de risco político.

Outro fator que esteve no radar dos analistas foi a ata da última reunião do Banco Central, quando a autarquia decidiu manter a taxa básica de juros em 15% ao ano pela quarta reunião seguida.

No documento, o colegiado do BC disse que vem ganhando mais confiança no processo de desinflação e que tem alterado sua comunicação nesse sentido. Apesar de reconhecer a evolução do cenário, seguiu defendendo maior firmeza com o juros e evitou sinalizar seus próximos passos.

“O Comitê reforçou que a estratégia seria de manutenção da taxa de juros por período bastante prolongado. Num primeiro momento, debatendo se tal taxa era suficiente, depois julgando que tal taxa era suficiente, e, nesta reunião, concluindo que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirmou o colegiado.

Para Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets, a mensagem é de que a Selic deve permanecer em um tom contracionista por mais tempo, mesmo com a melhora recente na inflação. “Isso é particularmente negativo para a Bolsa e para setores domésticos e alavancados, como varejo e construção civil, que sentem o custo de capital com a taxa básica mais alta”.

Reduções de juros costumam impulsionar a Bolsa por fortalecer ativos de renda variável. Com a Selic em alta, investimentos de renda fixa continuam atrativos, especialmente os pós-fixados.

A agenda do dia também revelou dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, que pesam sobre a definição do rumo da taxa de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). O relatório de emprego payroll mostrou que a economia dos EUA abriu 64 mil postos de trabalho em novembro, acima da expectativa de analistas consultados pela Bloomberg de 50 mil postos.

A taxa de desemprego ficou em 4,6%, ante 4,4% em setembro, conforme o mercado de trabalho enfraquece em um cenário de incerteza econômica decorrente da política comercial do presidente Donald Trump.

A economia perdeu 105 mil empregos em outubro, o que reflete a saída de mais de 150 mil funcionários federais que aceitaram os programas de demissão voluntária como parte do esforço do governo Trump para reduzir o governo.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, os dados reforçaram a possibilidade do Fed (Federal Reserve) não cortar juros em janeiro e acumular novas informações antes de fazer reduções. “A perspectiva de que o Fed vai adotar um ritmo mais lentos de cortes tende a favorecer os rendimentos dos títulos do tesouro americano e o dólar globalmente”, diz.

A trajetória dos juros americanos está em aberto, como sinalizou o presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a decisão da semana passada. O banco central optou por cortar a taxa de referência em 0,25 ponto percentual, como amplamente esperado, para a banda de 3,5% e 3,75%.

Powell afirmou que os juros estão “bem posicionados” para responder ao que estiver por vir e que as decisões serão feitas “reunião a reunião” a partir do que indicarem os dados econômicos.

A fala reforçou que as próximas divulgações macroeconômicas serão determinantes para as decisões de juros do curto prazo. Por enquanto, operadores veem 24% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual acontecer no encontro de janeiro, segundo a ferramenta FedWatch.

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