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21/06/2025

Baixo preparo profissional atrasa diagnóstico de autismo em adultos

Por Beatriz Pires em 21/06/2025 às 13:00

Reprodução/Redes Sociais
Reprodução/Redes Sociais

Falta de preparo leva à detecção tardia do Transtorno do Espectro Autista (TEA). É o caso de Matheus Rodrigues, que só aos 21 anos descobriu ser autista. Ele relata como foi crescer se sentindo deslocado, com dificuldades de atenção e comunicação que se intensificaram ao longo do tempo.

Aos 18 anos, Rodrigues começou a fazer terapia, quando surgiu a suspeita de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), posteriormente confirmado. Na sequência, consultou-se com o psiquiatra Moyses Aron Gotfryd, que prescreveu um medicamento para o transtorno. Ainda assim, os sinais não se esgotavam. Um ano depois, uma nova avaliação com um neurologista confirmou o diagnóstico de autismo nível 1 de suporte.

A psicóloga Giovanna Stahl afirma que histórias como a de Rodrigues são mais frequentes do que se imagina. Segundo ela, os estudos sobre autismo ainda focam, majoritariamente, em crianças. Por isso, muitos adultos passam a vida mascarando seus comportamentos para se adequar às normas sociais, dificultando a identificação. A falta de preparo de profissionais para lidar com esses casos também contribui para o diagnóstico tardio.

“Muitas pessoas buscam o diagnóstico na vida adulta por sentirem que não pertencem, ao receberem o diagnóstico de um filho ou após a sugestão de amigos ou profissionais da saúde”, explica Giovanna.

Ela destaca que muitos sintomas são negligenciados na infância e persistem na vida adulta, como dificuldade de socialização, muitas vezes confundida com timidez, rigidez cognitiva, hiperfoco e hipersensibilidade.

Rodrigues descreve o diagnóstico como um alívio: “Foi um esclarecimento. Depois do laudo, me senti mais confiante. Olhando para trás, percebo que alguns sinais foram ignorados por professores e até por minha família — como meu incômodo com barulhos altos e repetitivos, o som do isopor, luzes fortes e multidões.”

“Minha autoestima era horrível, me sentia impotente em relação a tudo. Se eu precisava sair de casa, montava um roteiro na minha cabeça e qualquer imprevisto era suficiente para me desestabilizar pelo resto do dia. Isso ainda acontece, mesmo agora adulto”, completa.

A psicóloga ressalta a importância da psicoeducação para o paciente, para a família e para o ambiente de trabalho, criando uma rede de apoio adequada. Psicoterapia, arteterapia e grupos de apoio são recursos recomendados para quem recebe o diagnóstico na vida adulta.

“Não conseguir fazer algo agora não significa que você nunca vai conseguir. Comece com pequenas coisas e seja paciente consigo mesmo”, aconselha Rodrigues.

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