Clube nega que jogadora de futsal tenha sido expulsa por criar perfil erótico no Privacy
Por Adrielly Souza/Folhapress em 28/05/2025 às 10:13

O nome de Marcela Soares, 21, viralizou na segunda-feira (26), após ela afirmar ao jornal O Globo que foi desligada do time de futsal onde atuava depois que a diretoria descobriu que ela vendia conteúdo adulto. “A decisão não teve nenhuma base contratual. Foi um julgamento moral. Não havia cláusula que me impedisse de fazer os vídeos”, disse ela na entrevista.
À reportagem, no entanto, a atleta confessou que a afirmação foi, em parte, impulsionada pelo ressentimento que guardava pelo Celemaster Uruguaianense, o clube em que atuava, e pelo desejo de ser ouvida. “A gente criou o fato e aumentou um pouco, pelo que aconteceu comigo no time. Saí de lá machucada, não quiseram pagar minha cirurgia e tive que usar o dinheiro do conteúdo adulto [Privacy, Topfans]”, afirma.
Ela diz ter se lesionado durante um treino ao disputar bola com uma colega do próprio time. Segundo a jovem, além da atleta, o técnico e a família dele também teriam demonstrado rejeição por ela atuar com conteúdo adulto. “Eles nutrem ódio por mim e não consigo entender o motivo”, afirma.
Marcela também afirma que o clube não ofereceu qualquer tipo de apoio durante o período em que esteve lesionada, demorando para agendar a cirurgia e, quando marcou, escolheu datas em que ela não poderia realizar o procedimento.
A reportagem teve acesso ao processo movido por ela na Justiça do Trabalho de Uruguaiana, em outubro de 2024. Marcela solicitava o reconhecimento de vínculo empregatício com o clube e pedia R$ 18.977,52 por direitos trabalhistas não pagos.
Na ação, a defesa da jogadora argumenta: “A reclamante exercia função de atleta profissional de futebol, com campeonatos realizados sob subordinação, remuneração, pessoalidade e habitualidade. Portanto, a natureza da relação havida entre as partes é, sim, trabalhista”.
O clube, por sua vez, negou vínculo empregatício e alegou que se trata de uma entidade sem fins lucrativos, voltada ao futsal feminino amador. “Durante as partidas em Uruguaiana, sequer cobramos ingresso. Em jogos importantes, arrecadamos alimentos para projetos sociais”, diz o time na ação.
A defesa do clube ainda declarou que “a reclamante sequer pode afirmar que tem como atividade principal o futsal” e que “atua em sites de conteúdo adulto, de onde obtém sua subsistência de até R$ 50 mil por mês”.
O processo foi julgado no dia 4 de dezembro. Na ocasião, o recurso ordinário de Marcela Rodrigues Soares foi negado pela Justiça.
Mais que apenas um time
A reportagem entrou em contato com o Celemaster Uruguaianense após a repercussão envolvendo o nome de Marcela Soares. O clube afirmou estar sendo alvo de fake news por parte de veículos de imprensa e usuários nas redes sociais. Segundo eles, nenhuma equipe de reportagem havia procurado o time para ouvir sua versão dos fatos.
O técnico André Malfussi e o presidente do clube, Auri Guedes Pereira, negaram que a atleta tenha sido expulsa por manter um perfil em plataformas de conteúdo adulto. Eles disseram ainda que a decisão da jogadora de deixar o time partiu dela mesma.
De acordo com a versão do Celemaster, a jogadora gravar conteúdos adultos nunca chegou a ser um problema interno. “Ela chegou no início da temporada, como todas as outras atletas, e permaneceu até o fim do ano. Dias antes da saída do grupo principal, ela nos pediu para retornar à sua cidade, algo que está registrado no próprio processo”, contou Malfussi.
“Nossa equipe vai completar 20 anos em 2025, e eu estou há 17 à frente dela. Em todo esse tempo, jamais expulsamos uma atleta, ela está mentindo”, prosseguiu o treinador. “Em 2024, fomos processados pela primeira vez, justamente por essa jogadora. Isso nos deixou profundamente abalados, porque lutamos há décadas pelo futsal feminino.”
Segundo o presidente, o clube sempre buscou cultivar um ambiente acolhedor. “Muitas vezes, agimos com o coração. Tentamos formar uma família, e não apenas um time”, afirma Guedes Pereira.