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'The Last of Us' tropeça em redundâncias em sua segunda temporada

Por Pedro Strazza/Folhapress em 26/05/2025 às 09:57

Divulgação/Max,
Divulgação/Max,

“Tudo tem uma moral se você souber onde encontrá-la.” A frase surge como uma premonição no fim da segunda temporada de “The Last of Us”, encerrada neste domingo (25), pichada em um dos vários prédios abandonados da trama. Depois de sete episódios, a protagonista Ellie está próxima de concluir sua vingança contra os vilões, mas longe de qualquer satisfação com o feito.

A personagem, vivida por Bella Ramsey, descobre que a vingança também é um prato que se come frio, um chavão para lá de irritante em uma história assim. Mas a série não pensa dessa forma – pior, ela reforça a ideia a todo momento ao espectador, como se martelasse um prego até o talo em uma tábua de madeira.

O entrave é apenas um de vários que assolam o segundo ano do programa, que vive em uma bolha de redundâncias nos roteiros. Exemplos são as cenas com violões. Elas soam como um motivo visual, um lembrete da conexão de Ellie com o pai adotivo, Joel, vivido por Pedro Pascal. Mas o encadeamento sai truncado, com a ação do capítulo interrompida toda vez que se encontra o instrumento. Pela terceira aparição do objeto, o espectador já está enfezado com a pataquada.

Justiça seja feita, o problema dos novos episódios vem da primeira safra, que fazia algo similar. A desculpa era repetir nas telinhas os eventos dos games que inspiram a série, um agrado a quem jogou, mas isso acontecia em paralelo aos episódios.

Já o segundo ano tem a dinâmica de um remake “live-action” das animações da Disney para os fãs – são várias as cenas do jogo que ganham equivalentes de carne, osso e fundo digital.

Esse desafio de tradução também se impõe à história, maior e mais ambiciosa do que a anterior. De tão grande, a trama do segundo capítulo é quebrada em duas temporadas na série, o que a princípio parece o mais correto. Os episódios lidam com uma jornada complexa, que envolve um salto no tempo de cinco anos, alguns flashbacks e até pontos de vista alternativos.

Mas o que é sensato no papel se mostra uma armadilha para o seriado. A segunda temporada usa mal a vida extra com o jogo e se perde em desvios e tempos mortos que desenvolvem mal os personagens. Por sinal, tenha cuidado com spoilers a partir daqui.

A morte de Joel, grande gatilho da vingança que move Ellie na temporada, é o melhor exemplo do mau andamento desses episódios. O evento vira o clímax do segundo capítulo, junto de uma invasão zumbi em Jackson – cidade onde os personagens vivem -, mas o conflito atropela toda a situação.

O ataque dos infectados quer marcar o momento na série com uma pincelada de épico, dessas cenas de grande escala da TV americana atual. Só que a situação em nada se relaciona com a intimidade do assassinato de Joel, um ato cruel de vingança nas mãos de Abby, interpretada por Kaitlyn Dever. Para complicar, o evento acontece logo no segundo episódio, que cria um ponto de virada logo após estabelecer o cenário no anterior.

O casamento da guerra com o trauma termina em um divórcio terrível de ideias. A série queima o episódio anterior, corta tempo de uma cena difícil e estabelece mal a nova premissa, além de a invasão não ter qualquer peso dramático. Mas o maior ônus é que a série sofre com a ausência do morto.

Junto de Isabela Merced, que vive um interesse romântico de Ellie, Ramsey passa apuros para sustentar o programa sem Pedro Pascal. Os episódios fazem pouco pela nova dupla, inventando dramas paralelos que afastam as atenções do luto que cerca a protagonista.

O melhor momento da temporada, não por acaso, acontece nos flashbacks com Pascal, que se concentram no penúltimo capítulo da temporada. O que é uma má jogada e tanto, porque o episódio entrega cedo uma reviravolta do fim do jogo – a de que Ellie sabia dos eventos do final do primeiro ano antes da morte de Joel.

A sensação é de que a série está a todo momento jogando para pegar o público no contrapé, em especial os seus fãs. Ao mesmo tempo que repete cenas e diálogos, os novos episódios tentam surpreender na adaptação. A temporada inverte perspectivas sobre determinados eventos, dá vida a personagens mortos no original e por aí vai.

Algumas dessas apostas funcionam, em especial as que exploram a milícia de Seattle, onde a maior parte da trama se passa. Mas os produtores Craig Mazin e Neil Druckmann parecem se esquecer a todo momento do arco de vingança de Ellie, que fica em modo de espera.

A série anda em zigue-zague, como se esperasse o final do último capítulo para mover as peças da história. Enquanto isso não acontece, reforça os temas nos diálogos. Ramsay nunca discutiu tanto a filosofia da vingança, e não à toa Ellie parece para lá de confusa sobre o que diabos está fazendo da vida.

Tudo tem uma moral se você souber onde encontrá-la. Enquanto “The Last of Us” planta bananeiras em reviravoltas que justifiquem a terceira temporada, fica a dúvida se a série é capaz de achar a tal moral da história sem trocar os pés pelas mãos.

The Last of Us – 2ª temporada

  • Avaliação: Regular
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Bella Ramsey, Gabriel Luna, Isabela Merced
  • Produção: Estados Unidos, 2025
  • Criação: Craig Mazin e Neil Druckmann
  • Onde ver: Disponível na Max

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