Reintegração de posse causa confronto e revolta de moradores em bairro de Bertioga; VÍDEO
Por Santa Portal em 20/10/2025 às 20:00
Uma reintegração de posse realizada na manhã desta segunda-feira (20) no bairro Jardim Paulista, em Bertioga, no litoral de São Paulo, gerou tensão entre moradores, oficiais de Justiça e representantes legais de uma família que reivindica a propriedade da área. Cerca de oito moradias foram desapropriadas.
Segundo relatos de moradores, a operação começou por volta das 8h, com a presença de várias viaturas da Polícia Militar, oficiais de Justiça e assistentes sociais. As famílias afirmam que não foram comunicadas previamente sobre a data da desocupação, mesmo após terem recebido a ordem de despejo há cerca de 30 dias.
De acordo com os moradores, o advogado que representa os supostos proprietários compareceu ao local acompanhado das autoridades, mas não avisou os advogados de defesa sobre a realização da reintegração. Houve um confronto físico e verbal, além da invasão das casas.
“Hoje nós fomos pegos meio que de surpresa. A gente tinha ouvido falar de ordens de despejo, mas como os advogados não tinham sido comunicados oficialmente, achamos que não iria acontecer. O fórum ficou fora do sistema durante o fim de semana, e na sexta-feira a juíza bateu o martelo, deu a reintegração e mandou cumprir, sem atender nenhum advogado”, relatou a presidente da Associação dos Moradores do Jardim Paulista, Damiana Rodrigues.
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Disputa judicial antiga
O conflito no Jardim Paulista segue desde a década de 1960, quando famílias simples de Bertioga começaram a adquirir terrenos e a construir suas casas em uma área que, à época, era pouco habitada – e que hoje faz parte da região central do município.
Com o passar dos anos, os moradores se organizaram para abrir ruas e viabilizar serviços básicos de água, luz e saneamento. No entanto, décadas depois, um advogado passou a alegar representar os herdeiros de um homem, suposto dono da área, e ingressou com uma ação judicial para retirar as famílias, acusando-as de ocupação irregular.
O processo, que se arrasta há mais de 20 anos, envolve duas matrículas diferentes registradas em cartório, o que torna o caso ainda mais complexo.
O que diz a Prefeitura?
Em nota, a Prefeitura de Bertioga informou que a ação em andamento cumpre uma decisão judicial referente a uma área particular. “O Município não é parte do processo, mas, ao longo dos anos, vem acompanhando a situação e prestando apoio social às famílias envolvidas. A administração municipal segue atenta à demanda, mantendo diálogo com o Judiciário, o proprietário do terreno e com os moradores, na busca por soluções”, diz o comunicado.
Em suas redes sociais, o prefeito Marcelo Vilares (União) falou que está tentando intermediar um acordo entre as partes.
“Eu estive no local, conversando com as famílias, e também recebi moradores no Gabinete. Sei o quanto essa decisão judicial é difícil para todos. Por isso, além de protocolarmos na Justiça uma proposta, nos reunimos hoje com representantes do proprietário da área. O nosso objetivo é buscar alternativas para ajudar as famílias que estão sendo afetadas pela reintegração. Infelizmente, fomos informados que essa reintegração de posse que está em curso e não poderá ser suspensa. É importante esclarecer que se trata de uma área particular, o processo é entre moradores e o proprietário da área – a Prefeitura não é parte desse processo. Quero deixar bem claro que, desde que assumi a Prefeitura, temos trabalhado para ajudar os moradores da Vila Tupi. Foram realizadas diversas reuniões com representantes da Vila Tupi e o Governo do Estado, buscando alternativas. Estou ao lado das famílias, como sempre estive. Vamos continuar dialogando com todas as partes envolvidas, para encontrar o melhor caminho”, declarou.
A presidente da associação disse ainda que, mesmo com o protocolo de pedidos de suspensão das ordens de despejo, vindos advogados e do prefeito Marcelo Vilares, a reintegração continuou. “O prefeito protocolou documentos e está tendo uma reunião hoje à tarde para tentar um acordo, mas isso não impediu que umas oito famílias fossem despejadas”, lamentou.
Damiana criticou a postura da magistrada responsável pelo caso. “A juíza não recebeu ninguém hoje, não quis atender nem os advogados do prefeito. A advogada da associação tentou a manhã inteira despachar com ela e não conseguiu. Tentaram agendar para amanhã, mas as famílias já estão na rua”, declarou.
Até o fechamento desta matéria, a juíza responsável pelo caso não havia se manifestado. O Santa Portal procurou a defesa da família dos herdeiros, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.