Mãe critica PS após filho morrer com hemorragia em Guarujá: "Falaram que não tinha nada"
Por Rodrigo Martins em 14/05/2025 às 15:00

A cabeleireira Tatiane Mara Mandu, de 41 anos, passou por duas perdas familiares no mesmo dia. No último dia 6, o pai dela e o seu filho, João Victor Mandu Manzano Cruz, de 20 anos, morreram. A morte de João Victor, entretanto, causa revolta em Tatiane. Segundo ela, o Pronto-Socorro (PS) de Vicente de Carvalho, em Guarujá, teria minimizado a complexidade do caso do seu filho.
Segundo Tatiane, a unidade de saúde não providenciou documentos para a internação do seu filho no Hospital Santo Amaro (HSA), mesmo com ele apresentando diversos problemas de saúde, em diversas passagens pelo PS nos últimos meses.
“Meu filho sofreu um acidente grave no 30 de julho de 2024. Por causa disso, ele ficou 28 dias na UTI do Santo Amaro e 28 dias no quarto. Foi muito bem tratado, saiu bem de lá. Como teve a gravidade do traumatismo de face, craniano, não era nem para ele andar e falar. Ele teve que fazer uma traqueostomia e, como não tinha como passar a sonda, foi tudo colocado na barriga. Depois, ele passou por uma cirurgia na face, se recuperou e veio para casa”, contou a mãe do jovem, em entrevista ao Santa Portal.
Segundo ela, meses após o acidente, João Victor começou a apresentar sequelas, como acessos de tosse e sangramentos, que eram recorrentes. De acordo com Tatiane, o seu filho perdeu bastante sangue na primeira vez que foi internado.
Nos últimos meses, as idas ao Pronto-Socorro se tornaram mais frequentes. “Para transferir uma pessoa precisa abrir vaga no sistema. Só fizeram isso na primeira vez, em novembro (do ano passado). Chegamos até a falar com o médico que o atendeu no Santo Amaro, ele não entendia porque não tinham feito o pedido para transferência. No PS sabiam dos sintomas dele, que ele tinha sangramentos em casa. Meu filho foi várias vezes no Pronto-Socorro, mas a médica dizia que não tinha nada na cabeça. O raio-X foi feito porque nós pedimos. Na última vez, ele pediu para fazer exame de tuberculose, que saiu na segunda-feira (5) e não deu nada. Ele estava sangrando e com febre, nós questionávamos, mas a médica falava que não tinha nada”, comentou.
Preocupados com a saúde de João Victor, os familiares buscaram um exame de tomografia para o jovem. Os sangramentos e a febre continuavam. O rapaz chegou a pedir para ser internado, porém teria recebido a recusa da médica.
“A médica falou que não iria interná-lo porque não era obrigação dela. Ela disse que o PS não tinha obrigação de fazer a transferência. Só receitou um xarope para ele tomar. A médica chegou a pedir para a fisioterapeuta fazer a aspiração do sangue da garganta do meu filho. Ela perguntou se a médica tinha problema, pois não tinha como fazer esse procedimento com o meu filho naquele estado. Uma amiga minha da área de Saúde me falou que eles deveriam transferir, porque já fazia tempo que o João estava assim. Ele passou no INSS no dia 5 e o rapaz lá não o liberou para voltar a trabalhar. No mesmo dia, ele foi cortar o cabelo e o rapaz ligou para o pai do João falando que ele não estava bem”, relatou.
No entanto, a situação ficou ainda pior no dia seguinte. Tatiane relata que seu pai teve uma parada cardíaca e morreu na madrugada do dia 6. Horas depois, pela manhã, o seu filho não resistiu e também faleceu, no quintal da casa do seu ex-marido, pai de João.
“Meu pai faleceu na sala da casa da minha mãe, 2h e pouco da manhã. Enquanto isso, eu estava falando com o meu filho, porque ele estava se sentindo muito mal. Por volta das 10h, quando fui liberar o corpo do meu pai, a avó do meu filho ligou. Ela estava desesperada, falando que o João estava passando mal. Quando cheguei, os paramédicos já estavam no quintal, em cima do João, tentando reanimá-lo mas ele estava morto. Os paramédicos me reconheceram, por causa do atendimento ao meu pai. Eles não entenderam o motivo de não internarem o João. O sangue não parava de jorrar. A gente ficou esperando o IML e o sangue continuava jorrando do corpo do meu filho”, disse.
Com a morte do seu filho, Tatiane passou a juntar documentos e provas para mostrar que o seu filho não recebeu a atenção adequada.
“O meu filho passou vários dias pelo PS. Estou indignada que a Secretaria de Saúde não me procurou para ouvir o meu lado. Vou lutar para fazer justiça pelo meu filho”, concluiu a mãe do jovem.
Procurada pelo Santa Portal, a Prefeitura de Guarujá informa que o paciente em questão foi atendido três vezes durante este ano no pronto-socorro de Vicente de Carvalho, nos dias 1º de março, 26 de abril e 2 de maio, recebendo todo atendimento necessário, inclusive com a realização de exames de imagem e laboratoriais. “A Prefeitura solicitou ao Hospital Santo Amaro que encaminhe relatório sobre o caso”, completa a nota.