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Catolicismo resiste na Baixada Santista, mas vê avanço de outras religiões e de ateus

Por Santa Portal em 09/06/2025 às 10:00

Carlos Nogueira/PMS
Carlos Nogueira/PMS

Mesmo diante do cenário de pluralização religiosa no Brasil e do visível avanço de outras confissões e da não religiosidade, o catolicismo segue como a religião com o maior número de adeptos na Baixada Santista, com 777.541 fiéis. No entanto, os dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados na última sexta-feira (6), revelam uma tendência de queda acentuada na proporção de católicos na região – reflexo de transformações sociais, culturais e espirituais mais amplas.

A título de comparação, em 2010 os católicos representavam mais de 55% da população regional, como relembrou o padre Renan Mascarenhas, da Coordenação Pastoral da Diocese de Santos. Agora, os católicos correspondem a aproximadamente 41,73% da população total (1.862.976 habitantes), com variações locais. O município com maior índice proporcional de católicos é Santos, com 58,98%, acima da média nacional (56,7%). Já Mongaguá apresenta o menor índice, com 41,23%. Veja os números completos abaixo.

Na média geral, o catolicismo ainda lidera na Baixada Santista. Contudo, em todas as cidades, exceto Santos, menos da metade da população se declara católica. Em contrapartida, o número de evangélicos, pessoas sem religião e adeptos de religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, é expressivo. Praia Grande, por exemplo, tem 26,69% de evangélicos e 12,8% de pessoas sem religião. Em Mongaguá, a soma dos que não têm religião (13,4%) e dos adeptos da umbanda e candomblé (8,85%) ultrapassa 22%.

O representante da Coordenação Pastoral da Diocese de Santos, que gere as igrejas da Baixada Santista, analisou que os números são resultado de uma mudança cultural. “Somos um país cuja tradição é católica. Isso está muito presente na vivência do povo brasileiro, nos valores religiosos cristãos que permeiam a cultura”, explica o padre Renan. “Mas, ao mesmo tempo, vivemos numa sociedade cada vez mais plural, onde o trânsito religioso é mais fluido”.

Ele também reconhece, com franqueza, a queda expressiva do catolicismo na Baixada, que estima em cerca de 10 pontos percentuais desde o último Censo. “É difícil precisar uma única causa. Vivemos num contexto de exaltação do ‘eu’, do individualismo. A fé católica pressupõe pertença, comunidade, comunhão. Isso caminha contra a corrente dominante”, avalia.

Além disso, o sacerdote menciona como fator-chave a ruptura na transmissão da fé dentro das famílias. “Hoje vemos menos diálogo, menos momentos juntos, menos presença de valores católicos no cotidiano das famílias. As novas gerações crescem sem esse referencial”.

Influência do papa Francisco

Num tom autocrítico, o padre Renan aponta que é necessário reconhecer que nem sempre as comunidades foram acolhedoras. Contudo, como nos convidou o papa Francisco, precisamos assumir o mea culpa e analisar que talvez as instituições não tenham sido tão próximas quanto deveriam.

“Então, é deixar uma pastoral de conservação para uma pastoral missionária. Com o papa Francisco, veio esse apelo para sair das sacristias, para ir ao encontro das pessoas e não esperar que elas venham. Isso foi um ponto de virada”, afirma.

Outro eixo de transformação tem sido o fortalecimento da catequese, agora reconhecida como ministério. A formação de catequistas mais preparados, apaixonados por transmitir uma fé vivencial – e não apenas doutrinária – tem sido uma das apostas da Igreja.

Apesar do recuo, o padre Renan acredita que o número atual ainda é expressivo e fruto do empenho missionário de muitas comunidades. Ele também aponta que o Anuário Pontifício, que reúne dados globais da Igreja, mostra crescimento do catolicismo no mundo: 1% a mais de fiéis entre 2021 e 2022.

Ainda assim, ele ressalta que o número, por si só, não basta. “Dos 40% que se dizem católicos, quantos realmente vivem essa fé? Quantos assumem a identidade católica com todas as suas alegrias e exigências?”, provoca.

Por fim, o padre destaca o papel da unidade e da comunhão dentro da Igreja como antídotos ao cenário polarizado da sociedade brasileira. “A Igreja precisa ser sinal de comunhão. Isso também é evangelização: mostrar ao mundo que é possível viver diferente, juntos, em diálogo, com respeito”.

Números completos

SantosPraia GrandeSão VicenteGuarujáCubatãoItanhaémPeruíbe BertiogaMongaguá
Católicos224.520 (58,98%)142.076 (46,27%)133.031 (45,72%)117.898 (47,09%)44.967 (46,23%)42.021 (42,49%)25.579 (42,53%)24.956 (45,2%)22.493 (41,23%)
Evangélicos54.777 (14,29%)81.769 (26,69%)81.233 (27,92%)71.742 (28,66%)33.072 (34,00%)27.198 (27,5%)18.671 (31,04%)15.884 (28,77%)13.801 (25,3%)
Espíritas29.196 (7,67%)12.883 (4,21%)9.964 (3,42%)6.317 (2,52%)849 (0,87%)4.106 (4,15%)2.565 (4,26%)1.283 (2,32%)2.655 (4,87%)
Candomblecista e umbandista 8.115 (2,13%)9.685 (3,16%)6.964 (2,39%)3.427 (1,37%)718 (0,74%)3.339 (3,38%)1.529 (2,54%)898 (1,63%)4.827 (8,85%)
Outras religiosidades23.726 (6,23%)20.395 (6,66%)19.124 (6,57%)16.726 (6,68%)4.735 (4,87%)5.481 (5,54%)5.511 (9,16%)4.208 (7,62%)3.033 (5,56%)
Sem religião39.781 (10,45%)39.220 (12,8%)40.163 (13,8%)33.212 (13,27%)12.877 (13,24%)16.226 (16,41%)5.644 (9,38%)7.733 (14,01%)7.313 (13,4%)
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