'Saneamento Básico', com Fernanda Torres e Wagner Moura, volta aos cinemas
Por Naief Haddad/Folhapress em 28/05/2025 às 10:54
A performance de Fernanda Torres em “Ainda Estou Aqui”, que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz e a indicação ao Oscar, atiçou a curiosidade de cinéfilos de outros países em relação aos seus filmes anteriores. Quando chegavam a “Saneamento Básico” no streaming, os novos admiradores ficavam surpresos ao vê-la numa comédia, conforme percebeu Jorge Furtado, diretor da produção de 2007, em comentários na internet.
Com toda essa agitação, os memes extraídos de “Saneamento” se alastraram pelas redes sociais, renovando o interesse pelo longa, que volta aos cinemas nesta quinta-feira, em cópia restaurada.
E não há só o efeito Fernanda Torres. “Saneamento” tende a se beneficiar ainda do protagonismo de Wagner Moura, que conquistou no último sábado o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes por “O Agente Secreto”.
Na comédia, um grupo de moradores de uma vila no interior gaúcho pede ao poder público uma providência para um antigo problema do esgoto. Marina, a personagem de Fernanda, é uma das líderes dessa mobilização e conta com o apoio de Joaquim, seu marido, interpretado por Moura.
Ao chegar à subprefeitura, Joaquim descobre que não existe um tostão para obras de saneamento básico, apenas uma verba de R$ 10 mil liberada pelo governo federal para a realização de um filme. Os moradores, então, decidem fazer um vídeo com parte desse dinheiro e o que sobrar dos gastos arcaria com os reparos.
Com o casal nesse projeto rocambolesco estão Silene, a irmã de Marina, vivida por Camila Pitanga, e Fabrício, o namorado dela, personagem de Bruno Garcia. Segundo Furtado, Marina foi inspirada em Mirandolina, a figura principal de “La Locandiera”, comédia de 1753 de Carlo Goldoni, autor italiano que deu novo fôlego à commedia dell’arte.
Mirandolina é determinada e sagaz. A essa base Fernanda acrescentou uma verve irresistível.
O molde dos personagens está a serviço de uma história que era atual em 2007, quando o filme foi lançado, e assim se mantém -e não por boas razões. “O Brasil continua muito precário”, diz Furtado.
Nenhum personagem sintetiza tanto o ceticismo em relação aos rumos do país quanto Otaviano, dono de uma fábrica de móveis e pai de Marina, papel de Paulo José.
O ator, que morreu em 2021, havia trabalhado com Furtado nos primeiros anos da carreira do diretor. É dele a voz em off ao longo de “Ilha das Flores”, escolhido como o melhor curta-metragem já realizado no país pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
“Ilha das Flores”, de 1989, também passou por restauração para 4K conduzida pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras. Como em outros filmes retomados pela iniciativa, caso de “A Hora da Estrela”, de 1984, Débora Butruce assumiu a coordenação técnica da restauração. “Surpreendentemente, o processo de ‘Saneamento Básico’, de 2007, foi mais desafiador que o de ‘Ilha das Flores’, mais antigo.”
O longa foi realizado em um momento de transição tecnológica. “Em sua maior parte, foi filmado em 16 mm e teve alguns trechos em 35 mm. E o filme dentro do filme foi gravado em vídeo”, afirma.
Durante a pós-produção, nos anos 2000, foi gerada uma matriz digital para que o filme pudesse ser editado. A partir dela, foram feitos materiais em película, quando o material ainda era o padrão nas exibições de cinema.
Para a surpresa da especialista, a matriz digital tinha mais resolução do que a versão em 35 mm e foi a escolhida como base para o restauro. Os filmes ganharam nitidez e vivacidade quando comparados às versões hoje no streaming.
Saneamento Básico, o Filme
- Quando: Reestreia nos cinemas na qui. (29). Também disponível no Globoplay e na Netflix
- Classificação: 12 anos
- Elenco: Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga
- Produção: Brasil, 2007
- Direção: Jorge Furtado
Ilha das Flores
- Quando: Reestreia nos cinemas na qui. (29).
- Também disponível no Globoplay
- Classificação: 10 anos
- Produção: Brasil, 1989
- Direção: Jorge Furtado
