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'F1' leva Ayrton Senna de volta às pistas e tenta repetir sucesso de 'Top Gun'

Por Leonardo Sanchez/Folhapress em 25/06/2025 às 11:49

Divulgação.
Divulgação.

Lewis Hamilton, Max Verstappen, Charles Leclerc, Lando Norris, Oscar Piastri. Esta poderia ser a escalação do próximo Grand Prix de Fórmula 1, mas é o elenco do novo longa-metragem de Brad Pitt. Maiores estrelas das pistas atualmente, eles e outros pilotos interpretam a si mesmos em “F1: O Filme”, que chega aos cinemas nesta semana misturando realidade e ficção.

Dirigido por Joseph Kosinski, o filme é uma das maiores apostas das bilheterias de verão no hemisfério Norte, por mais nichada que pareça sua trama. O cineasta, afinal, foi responsável por outro sucesso improvável recente, “Top Gun: Maverick”, o filme que “salvou o traseiro de Hollywood” no pós-pandemia, nas palavras de Steven Spielberg.

De lá para cá, os números podem até ter melhorado, mas é inegável que a fábrica de sonhos já não faz dinheiro com a mesma facilidade de antes. Por isso, há grande expectativa para saber se a dupla Kosinski e Jerry Bruckheimer, seu produtor, vai emplacar mais um sucesso besuntado de adrenalina e testosterona.
“Quem decide é o público, não nós, mas é um filme que você vai querer ver na telona, porque te transporta para outro mundo”, disse Bruckheimer na véspera da première do filme em Nova York, que fechou a Times Square com um tapete vermelho repleto de carros e pilotos de Fórmula 1.

Diretor e produtor acreditam que a mistura entre cenas e personagens reais das corridas ao roteiro de ficção vai ajudar o espectador a se conectar com a história, seja ele fã do esporte ou não. Entre os membros do segundo grupo, o rosto de Pitt estourado nos cartazes deve ajudar, é claro.

Autenticidade era imperativa para que “F1” funcionasse, diz Kosinski. Por isso, o projeto é algo um tanto inédito, no sentido de ter seguido não uma agenda própria de filmagem, mas a agenda de eventos da Fórmula 1. A equipe viajou o mundo com a competição, gravando boa parte das cenas em pausas dos GPs que acompanhavam. “Foi um luxo poder capturar tantos detalhes do esporte de dentro, diretamente com quem trabalha nisso. Enquanto ator, foi algo que me inspirou muito”, diz Javier Bardem, também no elenco.

Às vezes, uma tomada que poderia ser repetida à exaustão num estúdio precisava ser gravada em apenas dez minutos, em janelas que não atrapalhassem o andamento das corridas. Um desafio enorme, é verdade, mas que adicionou adrenalina, ingrediente essencial das pistas, ao trabalho da equipe de filmagem.

“O sentimento de participar de uma corrida não é algo que você pode simplesmente encenar, precisa ser capturado”, diz Kosinski. “Foi uma mudança completa no nosso modo de filmar e, por outro lado, era importante que ‘F1’ não parecesse um documentário. Precisamos de muita preparação, uma ótima equipe técnica e atores que conseguissem fazer a cena de primeira.”

Para conseguir acesso aos circuitos, garagens, paddocks e até ao pódio, o cineasta teve que convencer a Fórmula 1 e as escuderias que integram a competição a colaborarem com a Warner Bros. e a Apple Original Films, estúdios que bancam o orçamento de US$ 300 milhões, ou R$ 1,6 bilhão, segundo rumores da indústria.

A Mercedes, por sua vez, ajudou a desenvolver os carros vistos em cena, enquanto a Apple aprimorou câmeras de iPhones para que elas fossem acopladas aos veículos. Kosinski diz que mesmo com tantos envolvidos em “F1”, não houve interferências ou contrapartidas exigidas.

Esse grande trabalho em grupo foi possibilitado pela entrada de Lewis Hamilton, heptacampeão britânico, como produtor do filme. Ele também convenceu seus colegas de pista a gravarem cenas, viabilizando momentos como aquele em que Fernando Alonso dá um tapinha solidário no ombro de Pitt ou em que Leclerc balança uma garrafa de champanhe e encharca Bardem.

“F1: O Filme” acompanha o personagem de Pitt, um ex-piloto de Fórmula 1 que abandonou as pistas precocemente depois de sofrer um acidente. Seu antigo parceiro, porém, o convence a correr novamente, numa tentativa desesperada de salvar a escuderia que chefia, a fictícia APXGP.

Sonny Hayes logo entra em conflito com Joshua Pearce, o jovem e prepotente colega de equipe vivido por Damson Idris. O choque geracional é inevitável, repetindo a fórmula de “Top Gun: Maverick”, em que o piloto de caça de Tom Cruise era desdenhado pelos novos recrutas da Marinha americana.

Mais do que contar uma história sobre a Fórmula 1, Kosinski queria falar sobre a importância do trabalho em equipe. Assim, pilotos, executivos, engenheiros e tantos outros responsáveis por carregar um carro até a linha de chegada precisam se entender para ajudar as máquinas da APXGP em meio a Ferraris e McLarens superpotentes.

Apesar de a difícil relação entre os dois membros do mesmo time, Hayes e Pearce, estar no centro da trama, aquela entre as várias escuderias da Fórmula 1 também é explorada -com fair play, porém. Numa das sequências mais emblemáticas, um flashback transporta o espectador para o acidente que aposentou o protagonista.

Seu maior rival à época, naquele início dos anos 1990, era Ayrton Senna. Quando ele e Hayes disputam o primeiro lugar num Grand Prix e o carro do piloto fictício roda na pista, o brasileiro desacelera e corre para tirar o colega dos destroços. Acompanhamos tudo pela visão borrada de Hayes, com a imagem de Senna surgindo ao longe, como um salvador.

“Ayrton foi um piloto incrível e achamos que ele teria sido uma inspiração para o nosso protagonista, alguém para admirar”, diz Bruckheimer, que teve autorização da família Senna para levar o atleta para o filme.

“Se você perguntar para qualquer piloto quem foi seu nome favorito da Fórmula 1, ou então com quem gostaria de ter corrido, quase todos vão dizer Ayrton Senna. Tínhamos que criar o mito do Sonny Hayes nos anos 1990, e eu não podia deixar passar a oportunidade de ter Ayrton no filme”, completa Kosinski.

É um momento fértil para os fãs de Senna, que acabaram de ver a história do piloto narrada nas telas pela série homônima estrelada por Gabriel Leone. Como na produção da Netflix, o elenco de “F1” também precisou passar por um treinamento intenso, de três meses, para aprender o básico de Fórmula 1 e, eventualmente, dirigir um carro de corrida a quase 300 quilômetros por hora.

“Meu maior desafio era não morrer”, diz Idris, intérprete de Pearce, entre risadas. “Não era só dirigir. Nós tínhamos quatro, cinco câmeras acopladas no carro de uma vez só. Isso atrapalha a visão, muda a aerodinâmica do carro, e em meio a isso tudo tínhamos que atuar, lembrar as nossas falas. Foi um desafio e tanto, mas muito recompensador.”

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